Home Sem Categoria Amuleto da casa: Como Jersinho deixou a desconfiança de lado para se tornar um dos grandes treinadores da história do Brusque FC

Amuleto da casa: Como Jersinho deixou a desconfiança de lado para se tornar um dos grandes treinadores da história do Brusque FC

Finalista do Catarinense, campeão da Copa SC e da Recopa Catarinense, Testoni já ostenta façanha para lhe colocar no rol dos grandes treinadores do clube. E os números, além do bom futebol, são invejáveis.

por Sidney Silva
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Dizem que “santo de casa não faz milagre”, mas, aos 40 anos, Jerson Testoni, técnico do Brusque, vem provando que remédio caseiro pode ser eficaz. O treinador do Marreco, nascido na vizinha Gaspar, vem a cada dia ganhando a torcida, com um time envolvente e um futebol vistoso que vem encantando todo o estado e, até mesmo fora de Santa Catarina.

Finalista do Catarinense, campeão da Copa SC e da Recopa Catarinense, Testoni já ostenta façanha para lhe colocar no rol dos grandes treinadores do clube. E os números, além do bom futebol, são invejáveis.

Até o momento, em 31 jogos, são 22 vitórias, 4 empates e apenas 5 derrotas no comando do clube. O aproveitamento é de impressionantes 75,2%, maior inclusive do que o do Brusque campeão brasileiro da Série D, que teve 64,5%.

A nova era Jersinho
31 jogos

22 vitórias

4 empates

5 derrotas

75,2% de aproveitamento

O início

Formado nas categorias de base do clube a história de Jersinho com o Brusque vem de longa data. Ele começou no Marreco em 1997, aos 17 anos, e três anos mais tarde foi para o Criciúma, se tornando o primeiro prata da casa da história do Brusque a ser negociado com outro clube.

De lá para cá, Jersinho ainda jogou em equipes como Gama (DF), Vila Nova (MG), Francana (SP), Botafogo (SP) Joinville, XV de Piracicaba (SP), Atlético de Ibirama, Tubarão, Marcílio Dias, Brasil de Farroupilha (RS) e CFZ/Imbituba, onde encerrou a carreira, de forma precoce, aos 30 anos, fruto de uma pubalgia (lesão no púbis). Depois disso, passou a ser aperfeiçoar para ser treinador de futebol, e começou com trabalhos de bases em equipes como Marcílio Dias (2012/13) e Atlético de Ibirama (2014/15), onde também foi auxiliar-técnico do time profissional.

O recomeço
Em 2016, Jersinho teve a oportunidade de voltar ao clube que o revelou. Aceitou o convite para comandar a base do Brusque feito pelo então diretor, Jonas Stange. Foi coordenador técnico e treinador do Sub-17 e logo após teve a oportunidade de ser auxiliar-técnico do time profissional.

A grande oportunidade na carreira não demorou. Em 2017, com a saída de Pingo para o Caxias (RS), chegou a chance de Jersinho. Ele assumiu a equipe no primeiro mata-mata da Série D, diante do São José, de Porto Alegre (RS). Em Brusque, vitória do Marreco, por 2 a 1, com o gol do time gaúcho marcado já nos acréscimos. Na volta, derrota por 1 a 0 em Porto Alegre e eliminação da Série D pelo gol qualificado. “Acho que faltou um pouco de sorte. Em casa, estávamos ganhando de 2 a 0 e tomamos um gol aos 48 do segundo tempo. Em Porto Alegre perdemos de 1 a 0, e acabamos fora pelo gol qualificado. Fosse hoje, seria pênaltis”, relembra.

Questionado pela eliminação na Série D, Jersinho entrou pressionado na Copa SC, e também pela boa campanha de seu antecessor, Pingo, que havia deixado o Brusque com um honroso quarto lugar no Estadual. O mau início na Copinha fez com que o treinador tivesse uma passagem curta na sua primeira experiência como treinador do Marreco. Depois de cinco jogos no comando da equipe: uma vitória, dois empates e duas derrotas, o treinador foi rebaixado novamente à função de assistente técnico. “Começou a Copa SC e tínhamos muitos jogadores emprestados, na verdade a equipe estava sendo montada, e havia jogadores que nem tinham estreado ainda. Também acho que se precipitaram (a diretoria) um pouco. Sou bem transparente, acredito que podia ter um pouco mais de paciência, pois o trabalho estava sendo desenvolvido de forma positiva e eu tinha o grupo na mão. Mas futebol é decisão, a diretoria também recebe muita pressão e havia essa pressão para troca, foi quando resolveram me colocar de volta para auxiliar e trazer outro profissional”, lembra.

A saída e o retorno
Em 2018, Jersinho foi buscar um novo desafio para a carreira. Sem espaço para comandar o time profissional, aceitou o convite para trabalhar com a base do Joinville. “Foi uma oportunidade que tive. Sabia que o JEC, apesar de não estar nesse momento nem na Série D, era uma equipe que há três anos (2015) estava na A, com uma boa estrutura que eu conhecia de jogar contra. Eu precisava testar meu trabalho, pois até então havia trabalhado na base do Marcílio, Ibirama e Brusque, mas não havia comparação com outros profissionais”, observa.

No clube do Norte, Jersinho ficou por um ano e dois meses, até receber o convite para voltar ao Brusque, ainda como auxiliar-técnico, já em 2019. “Foi um retorno muito difícil, porque o JEC não queria liberar, e estava, também, me oferecendo oportunidade para ser auxiliar do profissional. Mas como já havia definido com o Brusque, resolvi voltar. Foi muito importante essa minha ida pra o Joinville, até para minha valorização, e também por mostrar que eu estava no caminho certo, tendo o meu trabalho reconhecido ao lado de outros excelentes profissionais que trabalharam no JEC”, afirma.

A ascensão
Mas o melhor ainda estava por vir para o, hoje, comandante quadricolor. Jersinho chegou em abriu de 2019 praticamente junto com Waguinho Dias para ser, novamente, auxiliar-técnico, logo após o Bruscão oscilar bastante no Campeonato Catarinense e chegar a flertar com o rebaixamento.

Era a terceira comissão técnica montada em menos de cinco meses, após a demissão de Paulo Baier e o fim do vínculo com Marcelo Caranhato, logo após o Estadual. E a dobradinha deu certo desde o início. Na Série D, o Bruscão fez a segunda melhor campanha da fase de grupos e, pouco depois, avançou pela primeira vez no mata-mata. E foi assim até o acesso e título inédito da competição, onde Jersinho ergueu a taça, ainda como auxiliar.

O protagonismo
O título da Série D abriu as portas (e o mercado) para Waguinho Dias e o Brusque logo viu novamente a cadeira de treinador ficar vazia. Do futebol boliviano, chegou o então desconhecido Ewandro Guimarães, que não deixou saudades e foi demitido cerca de um mês após sua contratação sem sequer conquistar uma vitória pelo clube. Foram 3 empates e 3 derrotas em 6 jogos.

Era a oportunidade que Jersinho precisava, numa missão muito difícil. Àquela altura, o Brusque era o último colocado da Copa SC, e havia acabado de perder em casa para o Fluminense de Joinville. A pressão da torcida era gigante e diretoria e alguns jogadores chegaram a ser hostilizados pouco mais de um mês após serem recepcionados como heróis.

Logo de cara, Jersinho tinha o clássico com o Marcílio Dias pela frente. A vitória por 1 a 0, em pleno Gigantão das Avenidas, foi um alento e deu gás para o então treinador interino no último jogo do turno. No returno, o adversário, até então líder da competição, voltou a ser vencido: 3 a 1. A confiança (e o futebol) dos campeões nacionais, parecia ter voltado.

O Brusque foi derrubando adversário por adversário e, com uma sequência de oito jogos de invencibilidade, encerrou na segunda colocação da fase de grupos. Depois, a equipe ainda derrubou o Tubarão nas semifinais, e voltou a superar o Marcílio Dias, desta vez nas penalidades, para levantar a taça. Era apenas o início da (nova) era Jersinho.

O cara do momento
O hoje reconhecido treinador do Bruscão ainda levantaria em janeiro a Recopa SC, em pleno estádio da Ressacada, sobre o Avaí, mostrando que a conquista da Copinha não era um mero acaso. Posteriormente, a classificação contra o Sport (PE), e depois sobre o Remo, com direito a goleada na Copa do Brasil, elevaram de vez o nome do treinador, que virou unanimidade no clube. Mas Jersinho ainda queria mais. No Catarinense, o time chegou a liderar boa parte da competição. Terminou em segundo apenas nos critérios de desempate (saldo de gols) com o Avaí.

A longa paralisação fez com que o retorno ao futebol fosse uma incógnita. Mas o Brusque manteve o pique. Depois de eliminar o Joinville com duas vitórias, a equipe superou o Juventus nas semifinais e, 28 anos depois, está, junto com Jersinho, novamente numa final de campeonato estadual. O adversário será a Chapecoense.

“Tudo que estou vivendo aqui me deixa muito feliz. Temos uma equipe muito competitiva e o mérito é de todos esses atletas e do grupo, que é muito forte psicologicamente. Creio que achamos um modelo de jogo que os atletas gostam de jogar e vamos trabalhar, jogo a jogo, com muita humildade para chegar aos nossos objetivos. Nosso grupo se acostumou com a vitória e, com coragem e atitude, vamos brigar por todas as competições que disputarmos”, projeta.