A Arena Multiuso Antônio Neco Heil, mais conhecida como Arena Brusque, completou 20 anos no último dia 16 de agosto e, duas décadas após a sua abertura, é motivo de abandono do poder público e frustração para atletas, dirigentes e amantes do esporte. Desde 2005, quando se tornou o principal espaço esportivo da cidade e um dos principais de Santa Catarina, o ginásio acumula um histórico de promessas não cumpridas, reformas paliativas e partidas interrompidas em dias de chuva. O problema das goteiras, que já repercutiu nacionalmente, ainda está longe de uma solução definitiva.
Em fevereiro de 2025, a atual gestão do prefeito André Vechi cancelou o serviço seis meses após a assinatura do contrato que previa a recuperação do telhado. Segundo o governo, à época, a obra seria paga com recursos do Estado, por meio das chamadas Transferências Especiais Voluntárias (TEVs). No entanto, em outubro de 2024, o Supremo Tribunal Federal considerou esse modelo de repasse inconstitucional. “Optamos por cancelar porque não havia previsão de entrada do recurso. Não podíamos penalizar a empresa com esse contrato”, explicou, em entrevista ao jornal O Município, o superintendente da Fundação Municipal de Esportes, Luiz Paulo Souza.
Telhado comprometido e riscos constantes
O telhado da Arena apresenta telhas quebradas, calhas corroídas, cumeeiras soltas e rufos deteriorados. As infiltrações deixam a quadra escorregadia ao menor sinal de chuva, oferecendo risco de acidentes e desconforto ao público. Um estudo técnico preliminar apontou que a recuperação do espaço é questão de segurança e de preservação da infraestrutura esportiva. “A recuperação do telhado não é apenas uma questão de continuidade das atividades esportivas, mas também de preservar a saúde e segurança dos usuários, proteger investimentos em infraestrutura e promover o desenvolvimento integral da comunidade”.
“A recuperação do telhado não é apenas uma questão de continuidade das atividades esportivas, mas também de preservar a saúde e segurança dos usuários, proteger investimentos em infraestrutura e promover o desenvolvimento integral da comunidade”
Nos últimos três anos, partidas da Superliga B de Vôlei, de campeonatos nacionais de basquete e também eventos municipais de futsal, bem como atividades de iniciação esportiva e mais recentemente partidas válidas pelos Jogos Comunitários de Brusque precisaram ser paralisadas ou suspensas. “Quase sempre quando chove, ou ao menor sinal de tempo fechado, recebemos mensagens que os treinos estão cancelados”, reclama uma mãe de atleta que participa do projeto de vôlei da Abel.
Além das interrupções, Brusque acumulou perda de mando de jogos e manchetes negativas, afetando a imagem da cidade no cenário esportivo. Em um dos casos de maior vexame nacional, o ex-jogador do Corinthians e comentarista da Band “Craque Neto”, chegou a ironizar ao vivo a situação do ginásio após atraso em seu programa fruto da paralisação de uma partida de basquete que estava sendo transmitida para todo o Brasil. “É uma vergonha para a cidade. O prefeito de Brusque, pelo amor de Deus, tem que arrumar isso. Não dá para acreditar que São Pedro dá uma mijadinha lá de cima e já alaga tudo?”, afirmou irritado. Na época, Ari Vequi era o responsável pela administração municipal.
“Ou reforma ou fecha”
Em 2022, o ginásio também protagonizou uma imagem triste para o Brasil. Quando uma partida entre Abel Vôlei e Blu Vôlei, válida pela Superliga B, ficou paralisada por cerca de duas horas por causa das goteiras. O time visitante foi para os vestiários e chegou a cogitar desistir da partida pela falta de condições de jogo. A partida que iniciou às 19h30 terminou quase uma hora da manhã, com 80% do público que pagou ingressos tendo desistido de acompanhar o restante do jogo, encerrado oficialmente às 00h49min do dia seguinte.

Imagens da quadra sendo enxugada com panos e jornais rodaram o Brasil. A repercussão trouxe críticas em todos os níveis e virou assunto até na Câmara de Vereadores. O vereador Cacá Tavares (Podemos) chegou a criticar a gestão da época dizendo que se o prefeito não tinha capacidade de resolver deveria fechar o espaço. “A gente sabe que o problema não vem desta administração, ele já se arrasta há alguns anos, mas o prefeito agora é o Ari Vequi. Alguma coisa tem que ser feita. Ou reforma ou fecha. Assumam que não têm competência para arrumar o ginásio”, disse sobre o gestor anterior.

Histórico de promessas e frustrações
Inaugurada em 2005, a Arena Brusque nunca passou por uma grande reforma e o fato é que ao longo dos últimos anos prefeitos não deram a prioridade necessária para o principal equipamento esportivo da cidade que no mês de outubro será o palco principal da Olimpíada Estudantil Catarinense (Olesc) competição que vai reunir na cidade atletas de quase 200 municípios. Desde 2017, quando o então prefeito Jonas Paegle iniciou reparos no telhado, diferentes administrações anunciaram obras que nunca resolveram o problema. Em 2019, novos ajustes foram realizados, mas insuficientes.


Promessas recentes também não avançaram. Em 2023, durante sua primeira campanha, o atual prefeito André Vechi garantiu em entrevista ao EsporteSC que resolveria o problema. O compromisso foi assumido na série de entrevistas realizada pelo jornal com os candidatos ao Executivo nas eleições suplementares daquele ano. “Não podemos admitir vergonhas como ver um jogo transmitido para todo o Brasil ser paralisado por conta de goteiras. Assumo o compromisso de atuar em parceria com o setor privado para devolver à Arena a estrutura que Brusque merece”, declarou.
No ano seguinte, antes das eleições de 2024, Vechi chegou a anunciar em suas redes sociais a assinatura de contrato com a empresa responsável pela obra. “Não dava mais para paralisar grandes jogos nacionais por causa de goteira. Era uma vergonheira só, mas isso agora vai acabar”, disse. A expectativa, no entanto, foi frustrada com o cancelamento da licitação em fevereiro deste ano. O fato é que passados dois anos de sua gestão, completados no último dia 3 de setembro, nada mudou.


O futuro da Arena
Enquanto a comunidade esportiva aguarda uma solução definitiva, a Arena Brusque segue sendo palco de improvisos e de esquecimento, até mesmo da imprensa, que muitas vezes segue calada diante dos problemas gritantes. De símbolo da modernidade no esporte catarinense, o ginásio transformou-se em sinônimo de descaso e promessas adiadas.
O que deveria ser orgulho de Brusque permanece, 20 anos após a inauguração, com o mesmo problema: goteiras que insistem em cair sobre o esporte e a paciência dos brusquenses.

Linha do tempo da Arena Brusque
- 2005 – Inauguração da Arena Multiuso Antônio Neco Heil, principal espaço esportivo da cidade.
- 2017 – Prefeito Jonas Paegle inicia reparos no telhado, mas obras não resolvem o problema das goteiras.
- 2019 – Ainda na gestão Jonas Paegle, novos ajustes são realizados, novamente insuficientes.
- 2022 – Partida da Superliga B entre Abel Vôlei e Blu Vôlei é paralisada por quase duas horas devido às goteiras. O episódio ocorrido na gestão Ari Vequi repercute nacionalmente.
- 2023 – Durante campanha suplementar, André Vechi, então prefeito interino, promete em entrevista ao EsporteSC resolver definitivamente o problema do telhado.
- 2024 – Vechi anuncia contrato com empresa responsável pela obra e garante que as goteiras teriam fim.
- Outubro de 2024 – STF considera inconstitucional o modelo de repasses das Transferências Especiais Voluntárias (TEVs), inviabilizando o recurso estadual.
- Fevereiro de 2025 – Prefeitura cancela a licitação para a recuperação do telhado.
- 2025 (atualidade) – Arena completa 20 anos sem nunca ter passado por uma grande reforma. Segue sendo palco de goteiras, interrupções de jogos e críticas da comunidade esportiva.
O que diz à Prefeitura?
O EsporteSC tentou contato com a Prefeitura de Brusque para obter uma manifestação sobre os problemas estruturais da Arena e a previsão de reforma. mas ao invés de respostas do poder público obteve retaliação. Imediatamente após os questionamentos, a gestão André Vechi optou por intimidar o jornal, cortando toda a verba de publicidade do veículo.
O caso foi denunciado em editorial publicado na edição imprensa do jornal do último dia 9 de setembro. Até o momento, não houve posicionamento oficial do poder público sobre a situação da Arena. Diante disso, o jornal protocolou pedido formal via Lei de Acesso à Informação (LAI) e seguirá acompanhando o tema até que a necessária reforma seja concretizada. Por Lei, a Prefeitura tem até 20 dias para se manifestar.
O EsporteSC também recebeu inúmeras mensagens de apoio de leitores e amantes do esporte, que repudiaram a tentativa de censura e intimidação. A todos, nosso agradecimento. Resta agora que o prefeito André Vechi se manifeste publicamente, deixando claro se autorizou a medida e se é ou não contrário às práticas de pressão e silenciamento adotadas por seu governo.