Home FutebolEscolinha de Base Atleta de 11 anos percorre o Brasil em busca do sonho de se tornar jogadora profissional

Atleta de 11 anos percorre o Brasil em busca do sonho de se tornar jogadora profissional

Rafaelly Silva, de 11 anos, deixou João Pessoa, na Paraíba, e percorreu quase 3 mil quilômetros até chegar em Escolinha de Futebol de Anita Garibaldi

por Lucia Chaves
0

Ainda adolescente, aos 14 anos, a melhor jogadora da história do futebol brasileiro, Marta, se preparava para deixar a cidade de Dois Riachos (AL), em busca do sonho de ser jogadora de futebol, no Rio de Janeiro. Hoje, 21 anos depois, esse é o sonho de outra jovem nordestina que pretende trilhar o caminho da atleta eleita seis vezes a melhor do mundo.

Rafaelly Silva, de 11 anos, saiu de João Pessoa (PB) e percorreu quase 3 mil quilômetros até chegar na escolinha de Futsal e Futebol Feminino A.G, em Anita Garibaldi, polo das Leoas da Serra, na Serra Catarinense.

O sonho de Rafaelly começou a ficar mais próximo em 2020, quando a atleta fez uma seletiva do Internacional em Anita Garibaldi. Na ocasião, o teste era voltado apenas para meninas acima de 14 anos, mas a família da jovem vislumbrou a oportunidade de colocar a atleta no radar do futebol local. O contato de Marilei Lourenssi, treinadora da escolinha, ficou no site do clube para que as meninas realizassem as inscrições. Foi aí que a família de Rafaelly conversou com a treinadora. Ela não pôde participar da seletiva em razão da pouca idade, mas a conversa trouxe frutos posteriormente.

Sensibilizada, Marilei gostou da história de Rafaelly e família. Ela, então, começou a dar treinos online para a adolescente, e, em fevereiro, acertou a vinda da paraibana para Santa Catarina. Hoje, com brilho nos olhos, a atleta vive um sonho. “Sai cedo de casa por conta da oportunidade que surgiu de realizar o meu sonho e um dia ajudar minha família. Me inspiro na Marta, sempre gostei muito dela”, comenta.

“Sai cedo de casa por conta da oportunidade que surgiu de realizar o meu sonho e um dia ajudar minha família. Me inspiro na Marta, sempre gostei muito dela”, comenta Rafaelly.

Os pais de Rafaelly, Iran da Silva e Rafaela Lima, contam que se interessaram pelo projeto desde o primeiro contato com a técnica Marilei. “Procuramos saber sobre e descobrimos o tamanho da organização e seriedade da escolinha que tem mais de 19 anos”, comenta Rafaela.

Marilei acompanhada do marido, da Rafaelly e outra atleta que reside em sua casa.

Amor que vem de berço
O amor de Rafaelly pelo esporte começou cedo. Seu pai, Iran, foi jogador amador em João Pessoa e tem uma escolinha de futebol na cidade. A mãe de Rafa também gostava muito de jogar. “Nossos filhos, Rafaelly e Iran Júnior, herdaram a habilidade do pai. Fazemos de tudo para eles terem a oportunidade que não tivemos e também ver a felicidade no rosto deles”, comenta Rafaela.

“Nossos filhos, Rafaelly e Iran Júnior, herdaram a habilidade do pai. Fazemos de tudo para eles terem a oportunidade que não tivemos e também ver a felicidade no rosto deles”, comenta Rafaela.

A viagem
A vinda da jovem nordestina para Santa Catarina não foi fácil, conta a mãe. “Nossas condições não são muito boas, mas o pai dela, como é conhecido na cidade, buscou ajuda financeira e também fez um empréstimo para viajarmos”, explica.

Apesar da viagem ter sido de avião, foi cansativa para Rafaelly. A família viajou da Paraíba para Recife. Da capital pernambucana seguiu até São Paulo. O destino posterior foi Florianópolis, até a chegada em Anita Garibaldi, onde Rafaelly precisou se estabelecer na casa da agora treinadora, enquanto os pais voltavam à Paraíba.

Desvalorização do futebol feminino
Um dos fatores que fez Rafaelly vir para o interior de Santa Catarina foi a desvalorização do futebol feminino em nível local. Mesmo morando na capital, ela não encontrava na cidade escolinhas de futebol e futsal feminino. Isso obrigava a atleta a treinar com os meninos, na escolinha do pai.

Mesmo jovem, ela mostra consciência e lamenta porque muitas meninas não terão a mesma oportunidade. “Acho ruim porque não tem escolinha feminina onde eu morava para as meninas realizarem o sonho delas. Gostaria que o futebol feminino fosse mais valorizado. Felizmente eu tive essa oportunidade, mas muitas não vão ter”, observa.

“Acho ruim porque não tem escolinha feminina onde eu morava para as meninas realizarem o sonho delas. Gostaria que o futebol feminino fosse mais valorizado. Felizmente eu tive essa oportunidade, mas muitas não vão ter”.

Para a treinadora e agora “tutora”, Rafaelly tem um futuro brilhante pela frente. “No campo ela joga de volante e no salão de pivô. É muito dedicada em tudo que faz, tem um futuro brilhante”, diz Marilei.

Saudade e choro
A quase 3 mil quilômetros de casa, a saudade de familiares e amigos é inevitável. Rafaelly tem todo apoio em Anita Garibaldi, mas, praticamente sozinha do outro lado do país, muitas vezes se depara com o choro “Quando estou com saudade choro à noite, dá um aperto no coração ficar longe da família. Mas estou buscando meu sonho. Quero jogar na Seleção Brasileira e ajudar outras meninas na escolinha”, comenta.

Do outro lado, já em terras paraibanas, a mãe também sofre com a ausência da filha. “Não é fácil, mas só em ver a felicidade dela em busca do sonho e aproveitando a oportunidade que Deus colocou na vida dela, supera a dor da saudade. Fico tranquila, também, em saber que ela está sob os cuidados da professora Marilei”, finaliza a mãe.

“Não é fácil, mas só em ver a felicidade dela em busca do sonho e aproveitando a oportunidade que Deus colocou na vida dela, supera a dor da saudade”.