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Band 120 anos: Márcio Belli

“É importante os mais jovens saberem que podem fazer parte da história do Bandeirante, se eles participarem. O primeiro passo é conhecer, ver o que acontece, o que o clube oferece. Porque se for esperar o que o clube pode dar, fica difícil. Pergunte-se o que eu posso dar para o Bandeirante, para que ele fique para a eternidade, não só os 120 anos. O que nos espera ainda neste mundo, com certeza, é essa união e amizade que existe entre os associados”.

por Redação
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Em comemoração aos 120 anos de História da Sociedade Esportiva Bandeirante foi realizada uma série de entrevistas com os presidentes do clube. Chegou a vez da quarta entrevista, realizada com Márcio Belli (72). Sua gestão foi de 1982 a 1984. Na manhã de segunda-feira, 4 de maio, ele esteve no clube para relembrar os principais fatos que marcaram a história de Brusque, do Bandeirante e sua própria história. Confira os principais trechos: 

Quais os principais marcos da sua gestão para o clube? 

No primeiro dia que eu assumi a presidência do clube, o excelente ecônomo que nós tínhamos, seu Osvaldo, chegou para mim e disse que estava de saída. Que eu nem precisava tentar convencê-lo a ficar, pois o presidente anterior fez isso e ele ficou mais dois anos. Porém, agora ele estava de saída definitivamente, pois já tinha até construído um outro restaurante no bairro Santa Terezinha. Então, ele foi embora. O problema é que todo o equipamento, as louças, talheres, cinzeiros, saleiros, paliteiros… tudo pertencia a ele. E logo na primeira semana ficamos a deriva. Então, eu corri para o presidente do conselho, seu Waldemar Schlosser – uma pessoa fantástica – e ele prontamente tomou as providências. Conversou com duas senhoras que eram associadas do clube e elas foram a Blumenau. Na época, precisava ir a um local maior, que tivesse uma quantidade de louças e talheres. E o clube sem dinheiro, nós tínhamos inaugurado em 1981 e logo acontece isso. Mas foi providenciada a compra desse equipamento todo e fomos atrás de ecônomo. Conseguimos aqui em Brusque duas pessoas, que montaram a cozinha e começaram a operar naquele primeiro momento. 

No segundo ano fizemos uma licitação, publicamos nos jornais e tal. Então veio um ecônomo de Blumenau, que assumiu. Esse eu considero um episódio que marcou. Mas ainda acho, viu, que um grande feito para o clube, foi a negociação do equipamento de filtragem da água da piscina, que na época o pessoal reclamava muito. A água era tratada, mas com aqueles princípios antigos, tradicionais de filtragem. E como eu trabalhava na área de seguros, a empresa Schlösser tinha uma apólice de seguro bem representativa. Fiz então uma negociação com uma seguradora, com a autorização do seu Waldemar Schlosser, e nós permutamos a apólice pelos filtros, que vieram do Rio de Janeiro. Como eles tinham a capacidade bem maior do que a necessidade da filtragem das águas, nós então resolvemos ampliar a piscina para aproveitar os filtros, que estão aí até hoje. A partir daquilo, outros presidentes já ampliaram e fizeram a sede da piscina nova. Enfim, aquilo foi um dos marcos importantes também. 

Lembro ainda, do episódio, que acho estão passando por agora também, quando a caldeira da sauna estourou e os aficionados da sauna também estavam reclamando. Então fizemos uma listagem para ver o que eles poderiam contribuir e o que o clube poderia completar. Claro, fui para o seu Waldemar e ele abriu a listagem. Entrou com praticamente 50% fazendo a doação. Nós não conseguimos mais nem 10%, na época, mas foi feito o acerto. O restaurante do Bandeirante fica em uma posição que começa a pegar o sol de manhã e vai até o meio dia. O pessoal também estava reclamando, que chegava para almoçar e era um suador danado. Então eu fui conversar com o seu Waldemar e ele pediu um levantamento. Dois ares condicionados. Aí ele falou vou doar um. Depois fui conversar com meu amigo Ary Wehmuth e ele doou o outro. Nós tínhamos essas participações dos associados e um conselho bem efetivo. 

A nossa diretoria se revezava – a cada dois anos um membro da diretoria vinha a ser o presidente, mas o grupo que tocava tudo que já havia sido começado, colaborava e participava das reuniões. Discutia-se bastante e sempre com apoio financeiro. Na minha época, também havia uma necessidade de modificar os estatutos. Foi feita uma comissão, com os melhores advogados da cidade que eram associados do clube e todos participaram bastante para fazer. Esses são alguns dos episódios que eu me lembro que marcaram. Depois, na parte social organizamos uma vernissage com o Lindolf Bell, algo do gênero assim e foi muito concorrido. Trouxemos um pintor gaúcho também. Era uma outra época. Havia uma participação muito grande na parte social aqui do clube. 

O Bandeirante é Sociedade Esportiva Bandeirante, então aqui iniciaram os Jogos Abertos, em 1960. Nessa linha de trabalho da diretoria com o esporte, que era praticado aqui no clube também havia uma interação muito grande da diretoria. Outra curiosidade, é que as lajotas do clube foram fabricadas aqui mesmo na minha gestão. Iniciamos na parte do restaurante colocando e estão aí ainda. Compramos a betoneira, as formas e os nossos funcionários faziam. Bem mais econômico. É importante os mais jovens saberem que podem fazer parte da história do Bandeirante, se eles participarem. O primeiro passo é conhecer, ver o que acontece, o que o clube oferece. Porque se for esperar o que o clube pode dar, fica difícil. Pergunte-se o que eu posso dar para o Bandeirante, para que ele fique para a eternidade, não só os 120 anos. O que nos espera ainda neste mundo, com certeza, é essa união e amizade que existe entre os associados.

De que forma o Bandeirante contribuiu para a sua própria história e de sua família? 

Eu comecei a frequentar o clube com 13 anos de idade, em 1960, assistindo os primeiros Jogos Abertos. Como guri vinha assistir e a partir dali eu passei a praticar o esporte. Comecei no basquete, mas a pessoa me dava um empurrão, eu ia dar o troco. Aí o Maninho, que era o treinador entendeu que isso não é legal. E os outros disseram que eu tinha um tamanho e me colocaram no voleibol.

Foi a minha sorte. Então, em 1964 eu fui um dos campeões estaduais no voleibol. Em 1965, foi a segunda vez que os Jogos Abertos foram em Brusque e nós fomos campeões. É o único título de voleibol masculino que o Bandeirante, no caso Brusque tem. E eu faço parte dessa história esportiva. A partir daí fiz boas amizades, grandes amigos, a minha vida passava aqui pelo Bandeirante. A partir daqui o Chico me levou para a diretoria da APAE e estou lá participando hoje ainda. Acho que foi muito importante a minha participação no Bandeirante, sempre extensivo a minha vida, dia a dia.

Dá saudade quando a gente começa a olhar para trás assim. Eu sempre digo que cada um não tem uma folha da sua vida, da sua vivência, se ele não tem o que escrever não há necessidade de uma folha. Eu tenho uma folha escrita já.

Como o senhor avalia a trajetória do Bandeirante ao longo dos anos, considerando que a história do clube se mistura com a história de Brusque? 

Veja, o Bandeirante passou por duas guerras. Sobreviveu e vai sobreviver a uma pandemia, com certeza também. Então, o Bandeirante é conhecido no Brasil como referência de clube esportivo e recreativo. Quando se fala na cidade de Brusque, as pessoas conhecem o Bandeirante. Todos conhecem. Por aqui e daqui saíram para o município, empresários que ainda hoje participam, fazem um intercâmbio entre si e têm consideração e respeito muito grandes pelo clube. Eu acredito que não dá para você desmembrar a Sociedade Esportiva Bandeirante da história de Brusque. O clube faz parte da cidade sim.

Qual a sua relação com o clube hoje? 

Eu participo muito pouco. Sou do Conselho Fiscal. Sempre que convocado e quando tem a reunião do conselho procuro participar. No mais, venho ao restaurante. A gente toma outros rumos. Alguns amigos desapareceram, foram chamados para o segundo andar e outros também têm as suas famílias. Nós estamos separados em função da idade. Nossos veteranos de voleibol acabou, não existe mais. 

Participo muito pouco atualmente, mas tenho muita saudade daqueles bons tempos. Antigamente, eu e minha família usamos bastante a piscina, o próprio clube. Depois eles casaram e vieram os filhos. Um até participa da academia e vem aqui no clube. Era bem família, porque havia competições no clube e tinha congraçamento. Um almoço que era oferecido pelo ecônomo, a bebida também a gente arrumava patrocínio, e as famílias se encontravam a cada dois ou três meses. Principalmente na época da construção da sede.

Levou muito tempo para ficar pronto e os funcionários, os pedreiros, marceneiros e carpinteiros eram funcionaram do clube. Então, depois que tinha telhado, a gente passava o dia lá embaixo vendo a construção, as divisões. A diretoria ficava explanando para os associados como ficaria tudo depois de pronto.  Montavam-se mesas e as famílias ficavam por ali, os filhos correndo no campo de futebol e brincando no parquinho. Depois que a sede foi inaugurada então tivemos a história: demolimos o prédio velho ou não vamos demolir? Mas ele estava muito prejudicado. Havia necessidade de estacionamento também, então demolimos o prédio, mas resolvemos deixar uma torre que tinha atrás.

No fim ela não ficou muito tempo, também foi demolida. E tinha uma historinha que diziam que quando construíram a sede antiga, a diretoria da época tinha guardado garrafa de uma cachaça muito boa dentro da parede. Então a gente brincava que iria acompanhar cada tijolo que saísse (risos). Até na hora que carregaram o material ainda tinha alguns que, incrédulo ou não, olhavam: quem sabe numa dessa aparece a garrafa. Imagina quantos anos, o paladar que teria. Mas se encontraram, não nos contaram (risos). 

O desejo do Bandeirante, ao comemorar 120 anos, é ser a segunda casa dos seus sócios. Em qual espaço o senhor se sente mais em casa?
Eu diria o ginásio. Nós inauguramos em 1965. A primeira primeira tarefa foi cavar esse morro para fazer as arquibancadas na própria estrutura. O concreto do piso iniciou-se numa segunda-feira e os veteranos do voleibol, nós éramos em vinte e poucos, cada um com um carrinho de mão, porque era a base de betoneira não tinha esses caminhões de hoje. As betoneiras estavam do lado de fora e de carrinho de mão a gente vinha derramando o cimento e os pedreiros iam espalhando lá embaixo e fazendo a concretagem. 

Nós participamos já do ginásio. Depois, no ano seguinte, fomos fazer o segundo Jogos Abertos de Santa Catarina e esse ginásio foi para o estado todo. Era um ginásio moderno, um ginásio novo. E ali a gente conviveu 40 anos com os veteranos, no mínimo um vez por semana jogando voleibol. Então, o ginásio realmente é a minha casa mais próxima dentro do clube.