Home Basquete Basquete sobre rodas: O esporte visto de uma nova perspectiva

Basquete sobre rodas: O esporte visto de uma nova perspectiva

O basquete em cadeira de rodas é a escolha daqueles que outrora praticaram a modalidade e posteriormente ficaram sem chão por um daqueles acasos da vida. São histórias de pessoas que imaginavam que a vida havia perdido sentido, mas que através do esporte tiveram uma nova perspectiva.

por Redação
0

Deficiências distintas, histórias em comum. É na Associação de Pessoas com Deficiência Física de Brusque (Apedeb) que atletas da cidade e de outros municípios da região hoje semeiam experiências e compartilham à mesma paixão: o amor pelo esporte.

O basquete é a escolha daqueles que outrora praticaram a modalidade e posteriormente ficaram sem chão por um daqueles acasos da vida. São histórias de pessoas que imaginavam que a vida havia perdido sentido, mas que através do esporte tiveram uma nova perspectiva.

GALERIA: Veja imagens do basquete sobre rodas no Sesc

Amputados, cadeirantes, aqui todos são iguais… “Não vivia no meio de deficientes físicos, vivia numa prótese em meio às pessoas consideradas normais. Hoje, acho que me encontrei mais, e até me aceitei mais, algo que não acontecia antes”. O relato é do brusquense Marcos Vinicius Schmidt, 50 anos. Há 30 ele teve uma das pernas amputadas, quando viveu um dos maiores dramas de sua vida. 

Schmidt conta que até os 20 anos era jogador de basquete andante. Um tumor, no entanto, fez com que tivesse que amputar a perna esquerda e se afastar do esporte pelo qual sempre foi apaixonado.

Logo após terminar o processo de quimioterapia, o brusquense chegou a procurar uma equipe de basquete adaptado em Florianópolis, mas sentiu que, naquele momento, já não conseguia ter o mesmo prazer pelo esporte. “Em princípio, não achei muito interessante, talvez pelo fato de as cadeiras não serem como hoje, tão profissionais, também não existia essa competitividade que existe hoje que é algo muito gostoso”, diz.

Desde então, o brusquense teve dificuldades para se manter de forma ativa em alguma modalidade. Chegou a flertar com a natação, mas não gostou por ser uma modalidade individual. Foram mais de duas décadas até recuperar o prazer pelo esporte.

“Há cerca de dez anos recebi o convite do Allan Maurício, que também é paraplégico, para vir fazer um teste e fiquei fascinado. Gosto do basquete. E eu que pratiquei o andante, as regras se encaixam perfeitamente. A mesma altura da bandeja, a mesma interpretação dos árbitros com leves adaptações, achei interessante”, comenta ele.

Hoje, Schmidt é o “caxias” da turma que treina de duas a três vezes por semana no ginásio de Esportes do Sesc de Brusque. É ali que ele e outros cadeirantes se encontram para disputas acirradas que não deixam em nada a desejar em relação ao esporte profissional. “Se for entrevistar todos, perguntando da minha pessoa. Não falto no treino, estou no horário. Sou o caxias da turma. Quando é treino é treino, levo a sério e não tem conversa. Realmente pego firme”, declara.

“Quando o pessoal passa a conhecer, vê que não é um bando de coitado que está jogando. Eles jogam para valer. O jogo é pegado. É pra valer. É esporte. Sempre digo que a gente usa a nomenclatura adaptado, mas na verdade é esporte”, destaca o técnico do grupo, Gustavo Josende Caetano, ressaltando o espírito com que os atletas encaram os treinos e as competições.

Novo recomeço
Única mulher no grupo, Gèvelyn Cássia Almeida, 34 anos, faz parte da equipe desde 2012. “Hoje, aqui no estado, sou eu e mais uma menina de Florianópolis. A gente não vê dificuldade nenhuma. Temos que lidar com essa questão da masculinidade, mas a gente tenta não ficar atrás”, comenta.

Assim como Schmidt, ela sempre praticou basquete andante e viveu um momento de dificuldade quando se viu dentro da nova condição física logo após sofrer um acidente no ano 2000. Na ocasião, Gevelyn, que hoje já acumula pré-convocações para a seleção brasileira, teve uma lesão na coluna e, em decorrência disso, virou cadeirante. Somente sete anos depois foi conhecer o esporte com deficiência, até receber o convite para entrar na Apedeb, já em 2012.

“Tive um momento na minha vida que passei por um período de depressão, que foi na aceitação da nova condição física. Eu penso que se eu tivesse conhecido o esporte antes, talvez minha vida estaria sendo tão boa ou melhor do que está”, diz ela. “Acredito que se as pessoas se derem a oportunidade de conhecer algo novo, podem sair de uma questão de isolamento de não estar vivendo em sociedade, e o esporte proporciona isso também. O esporte não é só ferramenta de qualidade de vida, mas inclusão social. Você conhece pessoas e vê outras dificuldades, maiores ou menores, e acaba conhecendo situações novas. Acho que a pessoa tem que se dar essa oportunidade de conhecer outras coisas”, completa.

Basquete sobre rodas no Sesc
A prática do basquete sobre rodas no Sesc começou ainda em 2007. Segundo Gustavo Josende Caetano iniciou por meio de um grupo que se encontrava no local fazendo atividade social. “E aí tinha alguns que queriam fazer atividades esportivas e a ideia era o basquete por que antigamente a Apedeb já teve um pessoal que jogou nos anos 80 aí parou”, explica.

O treinador diz que foi a junção do útil com o agradável, já que ele (Caetano) gostava de basquete e jogou a vida toda. “No início era algo bem recreativo, sem pretensão nenhuma. Trabalhávamos uma vez por semana, só no sábado à tarde. Começou de 15 em 15 dias na verdade, depois uma vez por semana. Em 2008 já começamos a jogar e participar de competições. Aí o pessoal pegou gosto e começou a vir mais gente”, conta.

Hoje os atletas são federados e jogam competições de âmbito estadual e até mesmo nacional. Em novembro o Sesc de Brusque chegou a sediar a Conferência Centro/Sul/Sudeste de basquete, competição que dá vaga para a terceira divisão do Campeonato Brasileiro.