O Clube de Caça e Tiro Araújo Brusque foi palco de um encontro marcado por precisão, tradição e laços familiares neste sábado (19). A cidade sediou a 6ª etapa do Campeonato Catarinense de Carabina Apoiada, reunindo mais de 120 atiradores de dez clubes de Santa Catarina em uma das modalidades mais tradicionais do estado.
De acordo com Daniel Dandolini Imhof, diretor de tiro de carabina apoiada do clube brusquense, a competição segue o mesmo formato desde os anos 1980, com dez etapas realizadas ao longo do ano. “O tiro de carabina apoiada é o mais tradicional da região do Vale do Itajaí, Norte e Alto Vale. Em Brusque, existe desde a fundação do clube, em 1866”, explica.
Cada atleta tem direito a 20 tiros válidos, com pontuação máxima de 200 pontos. Em caso de empate, o desempate ocorre por leitura fracionada com sistema decimal.
Mais que um torneio, uma história de amizade
Além da disputa estadual, o evento também foi palco do 56º Torneio da Amizade, um intercâmbio esportivo e cultural entre o clube brusquense e o Clube XV de Novembro, de Campo Bom (RS). A tradição teve início em 1968 e se mantém viva com visitas anuais entre os clubes, alternando entre Santa Catarina e o Rio Grande do Sul.
“Esse intercâmbio começou no centenário do nosso clube. Convidamos o pessoal do Rio Grande do Sul e, desde então, nunca mais paramos. São 57 anos de amizade”, conta Gilberto Wallauer, de 85 anos, um dos atiradores mais antigos em atividade, que participou de quase todas as edições do torneio.
Entre tantas histórias marcantes, a do atual vice-presidente do clube brusquense, Pedro Adolfo Ohlweiler, emociona. Natural de Campo Bom, Pedro conheceu sua esposa Renate durante o torneio de 1974, em Brusque. Casaram-se no clube e dividiram, por décadas, a paixão pelo tiro esportivo. “Ela faleceu há 20 dias. Hoje, participo como forma de homenageá-la”, disse, emocionado.
Renate foi pioneira: a primeira mulher a competir no clube gaúcho e também em Brusque. Chegou a ser bicampeã sul-brasileira, abrindo caminho para outras mulheres no esporte. O casal formou uma família apaixonada pelo tiro: o filho Guilherme também é campeão e mantém viva essa tradição.
Herança que atravessa gerações
O tiro de carabina apoiada é, para muitas famílias, uma tradição passada de geração em geração. É o caso de Leandro Massayoshi Ogino Dias, que começou aos seis anos, influenciado pelo pai. “Essa modalidade veio com os imigrantes. O clube era ponto de encontro, e o tiro, parte do lazer. Mantemos viva essa tradição centenária”, afirma.
De Blumenau, Ivete M. Haendchen também compartilha esse sentimento. “Meu filho começou e eu entrei para acompanhar. Hoje competimos juntos. É um ambiente acolhedor, onde disputam o pai, o filho, o neto. É lazer, união e história”.