Home Futebol Por trás do apito: Árbitros de Brusque e Guabiruba ganham espaço na federação com o sonho de estabilidade e consolidação na arbitragem

Por trás do apito: Árbitros de Brusque e Guabiruba ganham espaço na federação com o sonho de estabilidade e consolidação na arbitragem

Embora a função ainda não seja estável financeiramente e grande parte dos árbitros ainda necessitem de um outro trabalho para se manter, se tornar árbitro de futebol tem sido cada vez mais habitual do que já foi um dia. Segundo números da Federação Catarinense de Futebol, atualmente já são pelo menos 250 árbitros no quadro da federação, entre juízes e assistentes.

por Sidney Silva
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Para muitos meninos, o sonho de ser jogador de futebol é algo praticamente inevitável quando criança, mas a grande maioria passa longe desse objetivo. Alguns viram médicos, advogados, outros engenheiros, mas, ainda hoje, soa como surpresa quando um profissional resolve atuar como árbitro de futebol.

Embora a função ainda não seja estável financeiramente e grande parte dos árbitros ainda necessitem de um outro trabalho para se manter, se tornar árbitro de futebol tem sido cada vez mais habitual do que já foi um dia. Segundo números da Federação Catarinense de Futebol, atualmente já são pelo menos 250 árbitros no quadro da federação, entre juízes e assistentes.

Entre as centenas de árbitros no estado, Brusque se destaca com alguns nomes que vêm despontado. Outros já abandonaram o apito e as bandeiras, como é o caso do ex-árbitro Luís Carlos Pereira e o ex-assistente CBF Rosnei Hoffmann Scherer.

Mais recentemente, o casal de árbitros Tiago Soares e Taís Cristóvão, que é natural de Ibirama, mas atualmente vive em Brusque, também começou a ganhar espaço na entidade, enquanto outros nomes já despontam. Um deles é o do assistente Laurindo Schaefer Bianchezzi.

O início
Laurindo iniciou na arbitragem em 2014. Foi para trabalhar de delegado em uma partida entre as equipes Águas Negras e Figueira, em Botuverá, mas com a falta do amigo e hoje também árbitro da federação, Leandro Cipriano, foi obrigado a pegar na bandeira pela primeira vez. Gostou tanto da ideia que está até hoje. Há cerca de um mês, em 19 de junho, ganhou a principal oportunidade até o momento da carreira, ao trabalhar no jogo entre Blumenau e Próspera, válida pela Série B do Campeonato Catarinense. “Foi a oportunidade que sempre esperei”, comenta o assistente de 28 anos, esse ano eleito o melhor bandeirinha do Campeonato Municipal de Futebol Amador de Brusque. No ano passado, após apitar as semifinais e os dois jogos finais, também se destacou no município de Pomerode. “Acredito que isso me alavancou. Pois foram partidas em que fui muito bem. É um degrau, você começa lá embaixo, apitando e bandeirando jogos da base, e vai subindo as categorias, até finalmente chegar ao profissional. Todos os jogos somos avaliados, e por isso a importância de estar sempre evoluindo para se alcançar esse objetivo”, comenta o assistente.

No mesmo dia em que ele teve a principal oportunidade na carreira, viu outro companheiro de arbitragem também galgar seu espaço no cenário estadual. Praticamente ao mesmo tempo em que Laurindo apitava o duelo entre Blumenau e Próspera, a cerca de 60 quilômetros dali outro árbitro da região despontava na Série B Estadual, o guabirubense Paulo Roberto Nandi, 29 anos. Ele atuou como árbitro na vitória do Juventus de Jaraguá por 2 a 0 sobre o Guarani de Palhoça.

Trajetórias semelhantes
Tanto Laurindo quanto Nandi tem trajetórias semelhantes. Atualmente um é vinculado à Liga Blumenauense de Futebol (LBF), enquanto o outro compõe o quadro de árbitros da Liga Itajaiense de Desportos (LID). Ambos são amigos e caíram praticamente ao acaso na arbitragem. “Comecei da mesma forma que o Laurindo. Tendo que cobrir uma ausência do Leandro Cipriano, também em Botuverá”, recorda Nandi, que naquela oportunidade atuava como bandeira e então assumiu o apito. Foi como assistente que ele passou a moldar sua atuação como árbitro, função que passou a exercer desde 2017. “E hoje isso ajuda muito para identificar tomadas de decisões ou algo em que eventualmente o assistente possa ter dificuldade”, observa ele, que iniciou na arbitragem há pouco mais de cinco anos.

Laurindo e Nandi foram lapidados inicialmente nos jogos de futsal por Arlindo Vieira, ex-árbitro da CBFS, hoje responsável pela Associação Desportiva do Vale do Itajaí (Adevi), que deu a primeira oportunidade, ainda como mesários, aos profissionais. Mas ao longo da trajetória, muitos nomes foram fundamentais para alçar os profissionais ao quadro de arbitragem da federação, mas um deles merece uma menção especial.

“São muitas pessoas que sempre nos incentivam e nos fazem dar o nosso melhor. Temos todo um suporte das nossas ligas e da federação, mas sem dúvida um nome que marcou muito pra gente foi o do Sandro Luiz Mattos”, comenta Laurindo. Ex-árbitro de futebol, Sandro Mattos também atuou como assistente, e foi membro e depois presidente da comissão de arbitragem da Federação Catarinense de Futebol, cargo que exerceu de janeiro de 2016 a junho de 2017. Atualmente, trabalhava como avaliador da arbitragem. Ele se suicidou no último dia 18 de junho na cidade de Camboriú.

Sandro foi uma espécie de padrinho para Laurindo e Nandi, que até hoje sentem a perda do profissional. “Eu conheci o Sandro no vestiário de uma partida e ele me ajudou muito. Foi ele que me deu as informações do que era preciso para entrar na federação e, depois, quando entrei, me ajudou muito quando era o presidente da comissão de arbitragem”, ressalta Laurindo. “Ele morreu um dia antes da nossa estreia na Série B, então foi algo que mexeu muito comigo”, comenta Nandi. “Tivemos que fazer 1 minuto de silêncio antes da partida e fiquei todo arrepiado. Nesse jogo, em nossa preleção de arbitragem, nós do trio conversamos que faríamos o jogo por nós, mas também queríamos ter uma grande atuação em homenagem a ele, que com certeza estava vendo lá de cima”, completa.

Nandi diz que essa foi a segunda vez que atuou diante forte carga emocional. “A primeira foi no aniversário do meu pai, no ano passado. Ele havia falecido em fevereiro e faria aniversário em 5 de agosto”, conta. Naquele dia, Nandi apitou a partida entre Carlos Renaux e Itajaí, válida pelo catarinense de juniores da Série C. “Quando apitei o fim da partida e desci o túnel do vestiário foi um momento de muita emoção”, relata ele.

Pensando no futuro, Nandi e Laurindo sabem que ainda hoje viver da arbitragem é um sonho distante, mas seguem com o objetivo de continuar superando barreiras para alçar voos maiores. Entre as dificuldades somam-se o fato de muitas vezes ter que deixar a família de lado, a forte pressão a cada jogo apitado, além da necessidade de colaboração das empresas onde trabalha. “A empresa tem que ser parceira, e muitas vezes somos obrigados a escolher o emprego ou trabalhar com a arbitragem, de tanto que somos focados”, conta Laurindo.

Nada que desestimule os profissionais, no entanto. “No ano passado, foi um ano que perdi tudo, meu pai faleceu, me separei da minha esposa, e perdi meu trabalho, mas foi onde ganhei força na arbitragem. Confesso que já cheguei a pensar em desistir em razão dessas dificuldades, mas hoje é o que eu amo fazer”, finaliza Nandi.

A próxima meta de ambos, é claro, é chegar a arbitrar uma competição de nível Série A estadual. “O foco é uma Série A e, obviamente, uma indicação à CBF, que é o que todo mundo almeja. O sol nasce para todos, basta se dedicar”, projeta Laurindo.