A transição para a SAF do Brusque segue dando o que falar e cercada de incertezas sobre o negócio. Pouco mais de um mês após a aprovação da venda da SAF do Brusque na Assembleia Geral ainda há muitas questões sendo resolvidas nos bastidores. Além de atletas, profissionais dos clubes, ex-jogadores e colaboradores ainda aguardam respostas.
A mudança na estrutura administrativa e financeira do Marreco trouxe à tona não apenas questões contratuais e financeiras, mas também impactos diretos sobre os salários dos jogadores e funcionários, gerando insatisfação e incertezas entre os profissionais.
Em um cenário já delicado, com atrasos salariais que afetaram atletas, profissionais da base e funcionários do clube e da TV Bruscão, a SAF tem buscado regularizar a situação. Conforme a reportagem apurou, na última segunda-feira (2) houve um marco importante nesta conversa com regularização do pagamentos dos atletas.
No entanto, a medida trouxe também consequências, como a redução dos salários de alguns jogadores, o que gerou discordância, principalmente entre os atletas Rodolfo Potiguar, Matheus Nogueira e Diego Matias. O último foi o mais recente a aceitar. Já o volante e o goleiro seguem inflexíveis. Como não aceitaram a proposta, os dois não tiveram os salários regularizados e a tendência é de que os atletas deixem o clube.
“O problema é que eles (SAF) estão agindo errado. Para receber os atrasados, estão exigindo que o profissional assine um documento abrindo mão de tudo que tem para trás de direitos trabalhistas. O jogador é obrigado a abdicar de tudo para começar um contrato do zero com eles”, afirma uma fonte. “Como os atletas estavam há muito tempo sem receber, a grande maioria aceitou, mesmo nestas condições”, lamenta.
“O problema é que eles (SAF) estão agindo errado. Para receber os atrasados, estão exigindo que o profissional assine um documento abrindo mão de tudo que tem para trás de direitos trabalhistas. O jogador é obrigado a abdicar de tudo para começar um contrato do zero com eles”
A reportagem apurou que, além da redução dos salários, a SAF também informou aos atletas que não vai mais pagar a moradia dos jogadores, uma espécie de “ajuda de custo” que sempre fez parte da gestão do presidente Danilo Rezini até mesmo quando o clube esteve em divisões inferiores do futebol catarinense.
“Como os atletas estavam há muito tempo sem receber, a grande maioria aceitou, mesmo nestas condições”
Diretores e funcionários sem acordo
Neste cenário, a situação dos demais colaboradores, e de diretores que até então trabalhavam de forma remunerada no clube, é ainda mais complicada. “Tenho mais de 10 anos de Brusque, não posso sair sem um centavo no bolso”, afirma um diretor.
Todos os profissionais e diretores que antes recebiam salários passaram a ter os valores reduzidos entre 30 a 40%. A decisão de pagar esses valores via carteira de trabalho também gerou controvérsias, uma vez que os profissionais não aceitam as novas propostas e não têm clareza sobre a situação jurídica e trabalhista que se segue.
TV Bruscão fechada
Outro ponto de tensão é a TV Bruscão, que foi fechada pela SAF com a justificativa de gerar prejuízo. Os profissionais que trabalhavam na mídia sequer são reconhecidos, já que não tinham vínculo trabalhista oficializado pelo Brusque, recebendo apenas cachês referente às transmissões. Eles foram informados de que receberiam o salário referente ao mês de fevereiro, mas não o de janeiro. Agora, estão preocupados com a perda de seus direitos e já cogitam recorrer à justiça para garantir os pagamentos devidos. “Vamos ter que acionar a SAF ou o clube judicialmente, pois sempre estivemos à frente do projeto”, afirma um dos integrantes da equipe.
Base também aguarda pagamentos
Na base, a situação do Brusque segue da mesma forma. Embora o coordenador Andreone Reis tenha afirmado em entrevista no dia 22 de fevereiro de que os vencimentos dos profissionais seriam regularizados na semana seguinte, isso ainda não ocorreu, também deixando o projeto diante incertezas.
Alguns colaboradores que estão no clube e outros que já saíram alegam estarem com pelo menos três meses de salários atrasados. A diretoria do Brusque Associativo reconhece os vencimentos de dezembro, que devem ser quitados assim que a Associação receber o valor da SAF, situação que estaria em contrato. “Já os valores de janeiro e fevereiro já devem ser pagos diretamente pela SAF aos profissionais”, explica o ex-diretor Executivo do clube, André Rezini.
Situação delicada
Além de todos esses problemas citados, a SAF ainda tem um grande pepino para descascar com os jogadores. A premiação de R$ 1,6 milhões referente ao acesso à Série B de 2024 ainda não foi paga e não é reconhecida pelos novos gestores, segundo informam algumas fontes.
Rodolfo Potiguar, Everton Alemão, Ianson, Matheus Nogueira, Diego Matias e Alex Ruan, além de alguns jogadores da base, são os que ainda seguem no clube aguardando pagamento.
A insatisfação com tudo isso é visível e também atinge a antiga diretoria executiva, que também foi criticada por profissionais e diretores que relatam dificuldades em obter respostas claras. “A verdade é que eles venderam o clube e agora sumiram”, afirmou um profissional. “Nem WhatsApp me respondem mais”, disse outro.
O que diz o Brusque Associativo
Procurado, o diretor André Rezini diz que não procede a informação de que a SAF não reconhece o pagamento da premiação de R$ 1,6 milhões referente ao acesso à Série B de 2024. “Está no contrato. No bloco das dívidas, responsabilidade 100% da SAF”, assegura.
Ele também nega veemente de que diretores da diretoria Executiva não estão atendendo ou dando respostas a atletas e colaboradores. “Pode até ser que um caso ou outro de atletas possam não ter tido resposta de algum diretor, que não estou sabendo. Eu respondo todos”, afirma. “Tem que ver quem é o diretor que não responde. Não é a diretoria. Pode ser algum caso isolado que algum diretor por algum motivo ainda não respondeu”, completa.
SAF não se manifesta
A reportagem também procurou a SAF do Brusque para se manifestar sobre as alegações, mas não obteve resposta até o fechamento da reportagem. Foram enviadas ao clube as seguintes perguntas:
1 – Em que pé está, oficialmente, a regularização dos salários de atletas e funcionários?
2 – Quais têm sido as maiores dificuldades?
3 – Tivemos a informação de que todos os profissionais precisaram passar por readequações salariais e também não terão mais auxílio com a moradia. Isso procede?
4 – Atletas e funcionários estão sendo obrigados a aceitar as novas condições para receber os vencimentos atrasados?
5 – Qual a situação dos profissionais da TV do clube que trabalhavam por cachê?
6 – Qual a situação da base, até que ponto ela ficará sob responsabilidade da SAF (em quais categorias). Os salários dos profissionais das categorias inferiores também foram assumidos e regularizados?
7 – Em relação a premiação do acesso a Série B de 2024, no montante de 1,6 milhões, a SAF tinha conhecimento desse valor? Se comprometeu a regularizar quando da compra do clube?
8 – A SAF foi surpreendida por algumas questões trabalhistas e financeiras que não haviam sido repassadas ou formalizadas pela então diretoria do clube?
O espaço segue aberto e será atualizado caso a SAF deseje se manifestar.