Aos 38 anos, Daniel Lang protagonizou uma temporada marcante no futebol amador da região. Natural de Brusque, o zagueiro levantou três troféus em 2025, atuando por Abresc (Brusque), Figueira (Botuverá) e São Pedro (Guabiruba) – um feito raro para atletas que conciliam o futebol com a rotina pesada de trabalho.
Para Lang, a tríplice coroa representa a colheita de uma vida inteira dedicada ao esporte.
Da infância nos campinhos de barro ao sonho profissional
A paixão pelo futebol nasceu cedo. Criado no bairro São Pedro, em Brusque, Lang cresceu entre campinhos de barro e traves improvisadas. “Qualquer pedaço de grama era alegria. A maioria era barro mesmo”, recorda.
O talento chamou atenção ainda criança, e aos nove anos ele ingressou nas categorias de base do Brusque, alimentando o sonho de seguir carreira profissional. Mas a realidade era dura: Não tinha a estrutura que existe hoje. Faltava campo, material, dinheiro. A caminhada foi difícil, muito árdua”, conta.
A vida o levou ao futebol amador, ambiente onde construiu identidade, respeito e – em 2025 – viveu seu ano mais marcante.
Tríplice coroa regional: Brusque, Botuverá e Guabiruba
O primeiro título veio em casa, defendendo a Abresc no Campeonato Amador de Brusque. Lang entrou nas fases decisivas, conciliando jogos com compromissos em outra cidade.

Fotos: Reprodução
A final, no Estádio Augusto Bauer contra a Mecânica do Japa, foi emocionante e decidida nos pênaltis, com vitória por 5 a 3.
“Foi um campeonato muito disputado. Na final enfrentamos um time experiente, cheio de ex-profissionais. Mas com humildade e o grupo certo, as coisas acontecem”, afirma.
Botuverá: a resposta após um ano difícil
O título pelo Figueira teve sabor especial. Em 2024, o time havia ficado com o vice-campeonato após uma vitória e uma derrota na final contra o Ourífico. Este ano, a revanche foi conquistada nos pênaltis, em 8 de novembro.
“Não vou dizer que estava engasgado, mas não é fácil engolir. E a camisa do Figueira é muito pesada. Quem conhece Botuverá sabe”, comenta Lang.

Foto: Marcio Costódio
Apesar de um elenco curto e desfalques, o time se encaixou após uma goleada sofrida por 7 a 1 na fase classificatória. Na grande final, após empate em 1 a 1 no tempo normal contra o Ourífico, Lang manteve a confiança no título mesmo ao errar sua cobrança de pênalti, a primeira da série. “Antes do jogo, tive uma visão. Vi a gente sendo campeão em Botuverá e, em seguida, em Guabiruba. Mantive a confiança, e no final deu certo. Deus foi fiel à promessa”.
Guabiruba: emoção e superação
O terceiro título veio pelo São Pedro, de Guabiruba, cidade onde o jogador atualmente reside. Ele lembra das dificuldades durante as finais. Na primeira partida, Lang chegou a falhar no primeiro gol do Olaria, mas se redimiu marcando gols em ambos os jogos decisivos. “Nos primeiros 20 minutos de cada jogo, eu talvez não me achei em campo. Não era nervosismo, mas não fui bem. Tomamos gols nesses momentos, foi meu apagão. Mas consegui me recuperar e marcar gols em ambos os jogos, empatando as partidas e levando à virada histórica”, conta.
Segundo ele, a virada foi fruto de resiliência. “Quando estávamos perdendo, o time ficava nervoso e cada um tentava resolver sozinho, o que acabava gerando mais gols para o adversário. Eu mantive a fé e calma na promessa que Deus me fez e sabia que esse era o meu ano. No final, conseguimos a virada e conquistei o título junto com o grupo”.

Foto: Marcio Costódio
Liderança construída com estudo e experiência
Dentro de campo, Lang se tornou referência técnica e de controle emocional. É comum vê-lo pedindo calma várias vezes durante as partidas – gesto que repete desde o início dos jogos até as decisões.
Mas isso nem sempre foi assim. “Eu era muito estourado quando era mais novo. E não sabia lidar com jogadores”, admite. Com o tempo, buscou formação, estudou liderança e aprendeu a identificar o que cada atleta precisa. “Tem jogador que precisa ser cobrado de uma forma mais dura. Outros precisam ser colocados no colo. Hoje eu entendo o limite de cada um.”
Rotina na construção civil e a vida como pai
Fora das quatro linhas, o atleta concilia os jogos com a rotina da construção civil. Hoje com negócio próprio – Daniel Lang Construções e Reformas -, ele valoriza a profissão que atua:
“Quem é do pesado sabe como é difícil. Eu venho de berço disso. E dou valor. Todo mundo um dia precisa de um pedreiro para construir o sonho da vida”, diz.
A maior alegria, porém, está em casa: Caroline Lang, sua filha de sete anos. Em uma apresentação escolar recente, ela interpretou uma personagem que queria “comprar uma hora” para ficar mais tempo com os pais. “Me desmoronei. Difícil falar sem se emocionar”, conta.

A filha também brilha no esporte, seguindo os passos do pai:
“Com apenas 7 aninhos e participando da segunda competição de ginástica dela, conseguiu conquistar a medalha de ouro e foi campeã na categoria. Esse ano foi realmente mágico em todos os sentidos, ela é o meu maior orgulho.”
O vínculo entre eles é tão forte que até o número da camisa carrega um significado especial. Lang explica:
“Todo mundo pergunta por que o 30, né? Zagueiro geralmente usa 4, 3… Mas 30 é porque, no dia 30 de abril de 2018, eu recebi o presente de Deus que está até hoje na minha vida e vai permanecer até quando Deus quiser: minha filha. Desde então, decidi usar a camisa 30 por causa dela. É o aniversário dela. Em qualquer clube que eu jogar, se eu puder escolher o número, vai ser o 30.”
Gratidão e futuro
Com o fim da temporada, o zagueiro multicampeão agradece às três cidades onde levantou troféus: “Cada torcida, cada diretoria, cada jogador… todos foram fundamentais. Quem conhece minha história sabe que nunca foi fácil e chegar neste ponto, mostra que tudo valeu a pena.”
Aos 38 anos, ele mantém a competitividade acesa. “Vou ser competitivo a vida toda. Seja com 5, com 20 ou com 70 anos. Isso eu devo a Deus, que me dá saúde de ferro, não vou parar não”.

Foto: Reprodução
Depois de um ano inesquecível, Lang olha para o futuro com a mesma paixão de sempre. Mais do que os troféus, ele valoriza o aprendizado e os momentos vividos dentro e fora de campo.



