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Formato atual do Bolsa Atleta e Bolsa Técnico causa atrito entre desportistas e governo

Veja o que dizem atletas e prefeitura. Câmara convoca audiência pública.

por esportesc
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Concebidos para serem políticas públicas municipais capazes de fomentar a prática esportiva e o surgimento de novos talentos em diversas modalidades, o Bolsa Atleta e o Bolsa Técnico estão longe de serem unanimidades. Mesmo com o aumento exponencial do valor total destinado aos programas (em 2019, o quantitativo era de R$ 477 mil para 60 beneficiários, enquanto em 2023 o quociente é de R$ 2 milhões para 212 atletas), tanto desportistas quanto treinadores reclamam do fato de o edital de 2023, assim como em outros anos, não possuir critérios técnicos específicos para que a escolha dos agraciados não esteja à mercê de conchavos políticos ou outros favorecimentos indevidos.  Além disso, também causa atrito a disparidade dos valores concedidos aos assistidos, já que alguns irão ganhar R$ 300 mensais, enquanto outros receberão até R$ 2.280.

O ciclista brusquense Marcelo Debrassi, proeminente atleta de bicicross do município, é um dos grandes críticos do atual modelo do certame. Para ele, é necessária a criação de uma espécie de pontuação, tanto para a qualificação dos atletas, como para a destinação dos valores. “O edital deixa muito aberta a escolha. Deveria existir um ranking para cada competição, premiações obtidas, um critério numérico, onde, no final, esse ranqueamento torne mais fácil a escolha”, pontua.“Pois, senão, a escolha fica muito tendenciosa. No edital, dão os mesmos pesos pra todas as competições, mas, na hora da escolha, se nota uma diferença”.

Debrassi questiona, também, o pagamento das bolsas para atletas de outros municípios, geralmente contratados para atuarem por Brusque em competições como, por exemplo, os Jogos Abertos de Santa Catarina (JASC). Para ele, o edital deveria proibir este tipo de prática. “O que eles deixam? Que legado? Isso não é bacana. Se ainda fosse feito algum intercâmbio, alguma coisa, poderíamos considerar, mas hoje o município de Brusque contrata alguém de fora, e cria-se uma falsa ilusão de resultado. Se isso trouxesse algum fruto econômico ou outro tipo de fruto, seria algo a se pensar. É preciso repensar isso, evitar, pois está se retirando a oportunidade de outros atletas de Brusque participarem”, salienta.

Conselho questiona
Em entrevista a EsporteSC, o presidente do Conselho Municipal de Esportes, Marcelo Tomazoni, explica que, ainda em 2022, foi ajuizada uma ação no Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), solicitando, via judicial, alterações nos editais do Bolsa Atleta e do Bolsa Técnico. Em resposta, o governo municipal estipulou, ainda naquele ano, que os certames passariam a ter a participação de um integrante do conselho para a deliberação  dos beneficiários. Todavia, a falta de critérios específicos continuou a ser o principal imbróglio. 

A insegurança dos editais foi o fator principal para que o próprio Tomazoni, treinador de jiu-jitsu, não participasse do programa no ano passado. Em 2023, com a saída do diretor-geral da Fundação Municipal de Esportes (FME) de Brusque, Edson Garcia, e a chegada de Edemar Luis Aléssio, o “Palmito”, o professor retornou ao projeto. “Temos certeza que agora o conselho terá uma voz ativa e que iremos conseguir sanar, não todas, mas a maior parte dos problemas no próximo edital”.

O que diz o governo?
O novo gestor da FME Brusque reconhece que o Bolsa Atleta e o Bolsa Técnico tem muito a melhorar, e que novas alterações estão previstas para o ano de 2024. Em relação ao atual certame, “Palmito” frisa que o conselho dos editais é soberano, e que todos os trâmites foram seguidos de acordo com o que preconiza a legislação. “A gente sabe que o edital não está bem claro em alguns critérios. Por isso, nossos próximos passos é buscarmos melhorias junto com outras lideranças, pra ter um edital com critérios claros e definidos para as próximas bolsas”, pontua. 

Câmara anúncia Audiência Pública

Na tribuna da sessão ordinária de terça-feira (14), o vereador André Batisti, o Deco (PL), comentou o encontro que teve com o diretor-geral da Fundação Municipal de Esportes (FME), Edemar Aléssio, o Palmito. Na ocasião, o vereador se inteirou das ações da autarquia, após ter recebido reclamações e denúncias sobre os critérios utilizados para a concessão de bolsas e auxílio de custos a atletas e técnicos de Brusque, por meio do Programa Arthur Schlösser de Incentivo ao Esporte. “Acerca da bolsa atleta e bolsa técnico - ‘a bolsa da discórdia’, de tanta reclamação que vem pra gente - ele mesmo [o Palmito] disse, como ele pegou o edital em andamento, que não houve critérios, alguma coisa que possibilitasse uma prestação de contas. Então, está defasado esse edital, e ele viu vários pontos que a gente poderia melhorar, via Câmara de Vereadores”, afirma o parlamentar. 

Na mesma sessão foi aprovado o Requerimento nº 43/2023, onde ele e o vereador André Rezini (Republicanos) solicitam a realização de Audiência Pública, com a participação da FME, de atletas e de toda a comunidade interessada, para discutir as políticas públicas municipais e as ações voltadas à promoção do esporte, bem como, para avaliar a eficiência do programa.