Campeão da Série D com o Brusque em 2019, o técnico Waguinho Dias, hoje no Marcílio Dias, sonha em repetir o feito esse ano com o Marinheiro. O comandante que marcou seu nome na história quadricolor atualmente segue o mesmo caminho com a equipe de Itajaí. Em entrevista a EsporteSC, Waguinho Dias falou sobre o trabalho desenvolvido no time do Gigantão das Avenidas, semelhança entre as equipes e a busca do Marinheiro pelo acesso.
O fator Waguinho Dias
Waguinho assumiu o Marcílio Dias em 29 de setembro desse ano. Naquela oportunidade, o time estava fora da zona de classificação da Série D, e havia iniciado mal a competição, com uma derrota fora de casa para o Pelotas e um empate, em casa, com o Joinville. Logo no primeiro jogo do treinador, em 6 de outubro, uma semana após o técnico assumir, o Marcílio seguiu sem emplacar. O empate em 0 a 0 com o São Caetano, fora, e depois o empate, novamente sem gols, desta vez diante do Novorizontino, em São Paulo, fizeram a situação da equipe complicar. Eram apenas 3 pontos conquistados de 12 disputados nas quatro primeiras rodadas. Um dos piores ataques entre os mais de 60 clubes da Série D, com apenas dois gols.
Sequência promissora
O destino do Marcílio Dias só começou a mudar a partir de 11 de outubro, quando a equipe conquistou uma vitória suada, por 1 a 0, fora de casa, contra o então lanterna Tubarão. O triunfo deu confiança ao time, que na semana seguinte, venceu o primeiro jogo em casa: 1 a 0 sobre o Caxias. Na sequência, o rubro-anil ainda empatou os dois confrontos com o São Luiz por 1 a 1, na virada entre turno e returno, empatou com o Caxias fora (2 a 2) e voltou a vencer o Tubarão, desta vez em casa: 3 a 0. O Marcílio de Waguinho chegava a oito jogos de invencibilidade.
Classificação suada
Apesar da boa sequência, o Marcílio acumulou muitos empates em sua ascensão na Série D. Foram cinco, entre os oito jogos de invencibilidade. Com tantos empates, a situação da equipe ainda não era confortável. A derrota para o Novorizontino, na 11ª rodada, interrompendo a boa sequência da equipe, voltou a colocar em xeque a classificação. Depois disso, o time venceu o São Caetano no Gigantão das Avenidas (3 a 0), mas perdeu para o Joinville na Arena, na penúltima rodada (2 a 1). O drama ficou para a rodada final. A vitória suada em Itajaí sobre o Pelotas (1 a 0), aliado ao empate do Joinville, fora, contra o Novorizontino, garantiram a equipe rubro-anil com a quarta e última vaga do grupo 8.
Mais drama
No primeiro mata-mata dessa edição da Série D, e com quarta colocação de seu grupo, o Marinheiro não conseguiu escapar de um adversário difícil na próxima fase. O rival foi a tradicional Ferroviária, de Araraquara, que teve 71,4% de aproveitamento na fase anterior (9V, 3D, 2D). Na primeira partida, em casa, apesar de fazer um bom jogo, o Marinheiro não passou de um empate sem gols com o adversário. A classificação ficou difícil e piorou ainda mais quando um surto de covid atingiu todo o grupo. Entre toda a comissão técnica e boa parte dos jogadores, o time teve cerca de 20 desfalques para a partida. Parecia que havia chegado ao fim a participação do Marinheiro na Série D, sobretudo quando Luís Mendes abriu o placar para a Ferroviária aos 27 minutos.
Mas o Marinheiro não se abateu, e, mesmo todo mutilado em razão da covid-19, foi buscar uma classificação histórica. Alessandro empatou aos 22 minutos. O gol da virada e da classificação saiu 10 minutos depois. Luiz Renan se transformou no herói da partida ao fazer o segundo do Marinheiro, que agora terá o Goianésia (GO) pela frente para seguir com o sonho do acesso.
O trabalho de Waguinho no Marcílio
“A vontade no Marinheiro”, é assim que Waguinho Dias se sente no comando da equipe de Itajaí, onde já se destacou no comando do time no Campeonato Catarinense de 2019, antes de assumir o Bruscão e colocar seu nome na história do Marreco.
O treinador conta que pegou o Marcílio Dias num momento difícil, com plantel pequeno e dificuldades financeiras, sobretudo por causa da pandemia do coronavírus, que afetou as finanças de todas as equipes. Ele ressalta que o clube também não pode contar com a bilheteria de seu torcedor, que tem por hábito ser fiel nos jogos e observa que, esses fatores também afastam patrocinadores. “O torcedor muitas vezes deixa de pagar o sócio-torcedor, porque em momentos como esse há outras prioridades. Então, as dificuldades que o Marcílio está enfrentando são enormes”, comenta.
Fato motivacional
Waguinho ressalta que, nesse cenário de dificuldade extracampo, o primeiro passo foi ganhar os atletas e fazerem os jogadores entenderem a importância de se doarem ao máximo a cada partida. “Quando vim para cá, sabia de todo esse desafio (dificuldades financeiras). Mas é o momento de vestir camisa e é isso que tenho passado para os atletas. Estamos aqui pelas nossas carreiras, famílias, graças a Deus temos um trabalho, mas tem que honrar e vestir a camisa do clube, conhecer o que é o Marcílio Dias. É assim que faço”, comenta.
Ele ressalta ainda que havia uma dificuldade muito grande porque o clube tinha uma quantidade significativa de atletas lesionados. Eram 8. “Era uma equipe desacreditada, e, infelizmente, com muitas lesões. Mas os atletas começaram a entender o momento, que cada um precisava melhorar, para que, no ano seguinte, tenham melhores contratos e assim sucessivamente”, diz o comandante do Marinheiro.
Confiança e valorização ao elenco
Waguinho conta que era preciso dar confiança para quem vinha jogando, ao mesmo tempo em que dava atenção para os atletas que estavam no DM. “A partir do momento que foi começando a liberar o DM, fomos encorpando, mostrando a eles a realidade do momento, mas melhorando individualmente”, observa.
Ele ressalta que o foco sempre foi preparar a equipe para o mata-mata, mas que isso ocorre de forma gradativa. “Eu estava preparando todos para esse momento. Mas havia uma dificuldade de classificação. Começamos a buscar a melhor maneira de se jogar e achar uma equipe que encaixava com minhas ideias. Conseguimos oito partidas invictas e um entendimento melhor dos atletas de que todos eram importantes e iam precisar serem utilizados uma hora ou outra. Foi o que acabou acontecendo no jogo com a Ferroviária. Nosso grupo acabou ficando muito forte”, destaca.
VEJA ABAIXO OUTROS PONTOS IMPORTANTES DA ENTREVISTA COM O TÉCNICO DO MARCÍLIO DIAS
Drama do covid
“A partir do momento que foi detectado no teste que estávamos com oito atletas e toda comissão técnica com covid, ali mesmo começamos a fazer o trabalho que era preciso para todos estarem bem. Foi um momento de superação, quem fosse jogar, deveria jogar por todos que ficamos aqui, e quem foi teve uma grande oportunidade. Já havíamos feito uma grande partida aqui e fomos para lá sabendo que tínhamos condições de acreditar. E fomos lá e amassamos a Ferroviária, marcando pressão, jogando pra frente e sempre buscando o gol”.
Possibilidade de repetir o feito alcançado no Brusque
“Entendemos que o acesso é possível, estamos dando as mãos, com humildade e coerência em tudo que fazemos. Vamos brigar por esse acesso, sim. O grupo é merecedor e há uma harmonia para isso. Tudo que está acontecendo é mérito de uma diretoria que nos dá respaldo, do torcedor, que está acreditando, e nosso, querendo executar. Enxergo, sim, uma possibilidade muito grande de acesso”.
Semelhanças entre o Brusque de 2019 e o Marcílio de 2020
“A equipe do Marcílio é diferente do Brusque do ano passado. A equipe do Brusque desde o início a gente conseguiu as vitorias. Como a primeira fase era somente seis jogos, conquistamos rapidamente uma confiança. A equipe encaixou, era um elenco diminuto demais, em reposição, mas como o Brasileiro Série D é um jogo por semana, dá para recuperar, e o Brusque conseguiu levar. Mas o Brusque já conseguiu confiança desde o início, o Marcilio não. Começou mal, fomos classificar somente na última partida, mas viemos numa crescente. Sabíamos que era possível a classificação. Estávamos planejando estar num momento bom no mata-mata e aconteceu. O que no Brusque já aconteceu desde o início, no Marcílio conquistamos agora, com a classificação. Mas há coisas semelhantes, equipes com folhas salariais baixas, e todos querendo muito o acesso. Hoje, eu vejo nos atletas uma confiança como eu via no Brusque, isso é importante. O Marcílio está no rumo do acesso”.