Home Futsal Especial mês da mulher: “Desistir jamais”

Especial mês da mulher: “Desistir jamais”

Coordenadora e atletas do Barateiro contam como venceram as barreiras no esporte

por esportesc
0

Por Vanessa Fagundes

Todos os dias, mulheres em todo o mundo enfrentam os mais diversos obstáculos, e isso não seria diferente no mundo esportivo. Mas por um amor em comum, elas driblam preconceitos e superam barreiras.

As conquistas em relação à prática do futebol e do futsal feminino são recentes. A entrada da mulher no esporte mais praticado do país (majoritariamente por homens) aconteceu, apenas, na década de 1980. Antes disso, elas eram proibidas por lei.

A luta pelo desenvolvimento da modalidade no naipe feminino ainda acontece em diversos lugares do país. E neste contexto, Brusque se destaca. Desde 2006, a Associação Barateiro de Futsal Clube deu vida ao projeto que tem o objetivo de realizar sonhos de meninas e mulheres apaixonadas pelo esporte.

Alimentando sonhos
Ser uma atleta profissional estava nos planos da jovem Caroline Bezerra, ou apenas Bê. Natural de São Paulo, ela chegou a Brusque aos 17 anos para defender o Barateiro.

Após atuar na equipe do Guarani, de Campinas, por cinco anos, Caroline viu a oportunidade de estudar e praticar o futsal no município. Contudo, os planos mudaram e o caminho a ser trilhado foi outro. Depois de dois anos defendendo a equipe, Bê teve a difícil decisão de escolher entre jogar ou trabalhar nos bastidores, coordenando o projeto que desenvolve atividades no esporte de base e de alto rendimento. E lá se foram 12 anos.

“A decisão de parar de jogar foi minha. Foi muito difícil. Acredito que eu tenha feito a escolha certa. Apesar de sentir muita saudade, me identifiquei muito com esse lado de gestora, esse lado humano que é preciso. Eu moro junto com as meninas, então eu sei o que elas passam, sei as dificuldades que é ficar longe da família. Essa troca de função me traz uma bagagem muito incrível de experiência de vida”, disse.

Caroline Bezerra, coordenadora do Barateiro Futsal

Esperança
Apesar das dificuldades enfrentadas, a coordenadora afirma que o cenário hoje é diferente de uma década atrás. “Há 10 anos era tudo mais difícil. Não podemos esquecer que as coisas melhoraram. Não está como gostaríamos, mas o preconceito está diminuindo”, esclarece. “Esse movimento dá às mulheres o direito de escolher o que elas querem, de trabalharem e serem independentes. Diferente de antigamente, onde elas não tinham opção nenhuma”, afirma.

Hoje com 29 anos, a coordenadora também relata que o futsal feminino ainda é tratado como um tabu, mas que essa visão está sendo desfeita aos poucos. “Eu já vejo que os pais procuram as escolinhas dizendo que a filha adora jogar. Bem diferente de anos atrás, onde uma bola já era uma visão negativa”, declara.

Conquistas
Além dos títulos conquistados como atleta, Caroline também conseguiu alcançar grandes feitos como gestora do Barateiro. Destaque para a Copa Libertadores e a Taça Brasil de Futsal Feminino. Porém, segundo a coordenadora, o legado vai além das vitórias alcançadas. “O troféu e a medalha são comemorados, mas depois ele fica guardado. Então a minha maior conquista no esporte foi o que eu me tornei como pessoa e o que posso influenciar outras meninas e mulheres através do meu trabalho”, revela.

Sonho (quase) interrompido
Quem cruzou o caminho de Caroline foi Camila Franciele Borges, 27 anos. A lateral-esquerdo, que atua pela equipe brusquense, iniciou no esporte aos sete anos e, como a maioria das crianças, brincando com os amigos na rua, todos eles meninos.

O primeiro jogo foi disputado em um interbairros de sua cidade, Santo Amaro da Imperatriz. Ela era a única menina presente. Isso tudo aconteceu quando ela tinha apenas 10 anos. Após isso, iniciou na escolinha de futsal e, já aos 13, começou a jogar profissionalmente.

Camila, ala do Barateiro Futsal

A partir daí, atuou em times de base, mas teve que paralisar o sonho por quatro anos por motivos financeiros. Ela, então, retornou ao futsal para defender a equipe brusquense em 2021, já na equipe adulta.  “Hoje, para nós mulheres, é totalmente diferente e muito difícil conquistar espaço. Apesar do crescimento do esporte, ainda é difícil. Porém, aos poucos, vamos enxergando uma melhora”, conta. “É preciso que você seja valorizada como profissional, com carteira assinada, no papel. Acredito que isso ajudaria diversas atletas que muitas vezes não tem a ajuda financeira de uma família. Então tem que partir daí, de sermos profissionalizadas e valorizadas no esporte”, diz.

De geração para geração
Isabelle Maria Justino de Souza, a Bella, 21 anos, trilhou um caminho diferente no futsal. Natural de Mossoró, no Rio Grande do Norte, ela conta que o pai, vindo de uma família de pescadores, idealizava ser jogador de futebol. Contudo, a falta de apoio e oportunidades fez com que ele desistisse do sonho. Só que o amor pelo esporte falou mais alto para Isabelle, que, em busca da realização, foi morar fora aos 15 anos. “No começo eu me imaginava vestindo a camisa da seleção, em alto rendimento, mas nunca pensei que fosse tão difícil sair de casa e ficar longe da família”, diz. 

Isabelle conta que apesar de o começo da carreira ter sido complicado, acreditou no sonho e seguiu adiante. Com isso, aos 17 anos, fez um teste na equipe da Leoas da Serra, em Lages. Lá, atuou por dois anos e depois se mudou para Brusque, a fim de defender o Barateiro, onde já se encontra há três anos.

Bella chegou a sofrer preconceito, mas nunca desistiu do futsal

Desistir? Jamais!
Durante os mais de cinco anos de carreira, a jogadora conta que, no início, pensou em pendurar as chuteiras precocemente, em decorrência das dificuldades e do preconceito. Isabelle revela que ouvia comentários que a deixavam triste. No entanto, sabia que era essa a profissão que queria seguir e continuou firme na busca pelos objetivos.

“Não desistam dos sonhos! Vai ser difícil, terão pedras no caminho, mas é preciso colocar o objetivo na cabeça e não desistir”, Bella, Ala do Barateiro Futsal.

“Quando eu saí de casa, questionaram meus pais se eles deixariam a filha em um esporte que é de homem”, conta a atleta. “E isso muitas vezes me barrava, fazendo eu me questionar se era realmente o que eu queria para a minha vida”, relata.

Mulheres no futsal, sim!
Assim como Caroline e Camila, Isabelle também fala do crescimento pessoal que a vida esportiva proporcionou. Além disso, outro ponto em comum une as três entrevistadas desta reportagem: a persistência em busca do maior objetivo: o de ser feliz fazendo o que se ama, mesmo com todos os ventos contrários.