São mais de 15 anos dedicados ao voleibol. Tempo suficiente para construir uma longa história de conquistas e uma galeria cheia de troféus. O voleibol de Nova Trento é hoje reconhecido nacionalmente por colocar no esporte talentos que buscam passagem como protagonistas da modalidade. É o caso da neotrentina Rosamaria, que iniciou a carreira na cidade e hoje, apesar de ter apenas 21 anos, vem ganhando espaço na seleção brasileira principal. Atualmente a atleta representa o Camponesa/Minas.
Das quadras do ginásio de esportes da cidade também saíram atletas como Duda Kraisch, hoje em Rio do Sul, Simone Scherer, com passagens pela seleção brasileira infantil e juvenil, atualmente no São Caetano, Amabilie Koester, do Sesi; e Raquel, atleta do Valinhos. Também saiu de Nova Trento, após ingressar na equipe aos 14 anos, a brusquense Karoline Tormena, hoje no mesmo Minas de Rosamaria. “Foram várias jogadoras que passaram aqui com a gente e hoje se destacam em nível nacional. Temos jogadoras na seleção e cinco com bolsas nos Estados Unidos, estudando no exterior”, comenta a idealizadora Vandeca Tomasoni.
As revelações destas atletas por si só deveriam ser o suficiente para alavancar o nome do clube e fomentar o desenvolvimento da iniciativa, mas mesmo com tantos resultados, a realidade hoje ainda é bem diferente do que Vandeca imaginava. Após ser criado em 1998, o projeto viveu momentos de glórias, sobretudo com a parceria com a gigante operadora de telefonia TIM.
Durante os anos de parceria, que durou de 2002 a 2014, a equipe teve subsidio financeiro para formar atletas e também conquistar resultados. Em 2013 o grupo chegou a ficar com o vice-campeonato catarinense de voleibol adulto. Mas ainda no último ano, o time já passou a sentir os efeitos da falta do parceiro. “Esse ano já estou mais aliviada, mas já passei muito com a corda no pescoço. A TIM ficou uns bons anos, mas no último, o dinheiro do projeto veio, mas veio tarde. Cheguei a jogar a temporada inteira sem dinheiro”, conta Vandeca. “Também investi muito dinheiro meu na equipe. Fomos para o Mundial da China com dinheiro meu”, desabafa.
Sem grandes investimentos, os resultados em quadra diminuíram e, consequentemente, ficou mais difícil achar novos apoiadores. “Nem todos entendem essa questão da formação, então tenho que pensar e mesclar. Se for para eu ter um time formador e resultado preciso de muito mais investimento”, destaca. Essa foi a causa para uma temporada sem resultados no ano passado, segundo ela. “Estou com dez atletas no mercado. Pago o meu técnico, o Marcelo [Garim], mas ele me pesa, porque é o melhor do estado. Ele veio para cá contratado para fazer um trabalho especial com as atletas, até mesmo algo personalizado se houver a necessidade”, diz. “No ano passado falei para ele: esquece resultado, vamos trabalhar essas meninas e formar. Se a gente não fizer isso, uma menina de 1,90 metros vai ficar no banco e não joga. Tanto é que a gente não ganhou nada, mas já imaginávamos isso”, diz.
Melhor entidade esportiva do estado
Recentemente, o voleibol de Nova Trento recebeu o reconhecimento como melhor entidade esportiva de Santa Catarina ao conquistar o prêmio Guga Kuerten de Excelência no Esporte. Segundo Vandeca, um acontecimento que salvou o ano da equipe que passou em branco nas quadras. “A gente achou que ia passar o ano zerado. Então, esse reconhecimento veio para fechar com chave de ouro. Quando me falaram que era dois prêmios, já que estávamos concorrendo também como equipe esportiva, imaginei que pelo menos um viria”, declara.
Segundo Vandeca, o reconhecimento é importante, mas somente ele não é suficiente. “Não adianta eu ficar fazendo matéria só de troféu, a gente não cansa de ganhar, mas o que eu queria é mostrar para as pessoas que precisamos formar outros como formamos a Rosamaria. Que as crianças daqui tenham novas oportunidades. Por que, hoje, eu sou alvo. Ninguém quer trabalhar a base, todo mundo já quer a atleta pronta. Além disso, se o projeto cresce, o custo também aumenta”, destaca.
Projeto tem custo mensal de cerca de R$ 15 mil
Atualmente, para manter o projeto são necessários pelo menos R$ 15 mil mensais. Hoje, cerca de 80 garotas dependem da iniciativa. Este ano, a associação terá cerca de R$ 170 mil para captar via lei de incentivo ao esporte, mas esse dinheiro foi aprovado apenas para pagamento de profissionais. “Agora que vou começar a receber alguma coisa, só que dentro do projeto a própria aplicação já volta um tanto para o governo. Então, já fica ali mesmo. E não é um valor absurdo, como muitos pensam. Na verdade não é nada”.
Segundo ela, o valor foi uma espécie de sobrevida para a iniciativa. “Se não fosse por isso eu diria que hoje estaria fechando, porque, senão, não tem como. Até agora agi com a emoção, se fosse com a razão já teria fechado”, destaca ela.
Vaquinha online e busca por parcerias
Vandeca comenta que vem buscando alternativas para continuar desenvolvendo o trabalho. Segundo ela, ainda é necessário fazer a comunidade de Nova Trento abraçar o voleibol. “Hoje, tenho um projeto, mas ainda não consegui fazer a minha comunidade abraçar isso. Me arrebento para mantê-lo”, destaca.
Ela ressalta que entre as 80 atletas que fazem parte da iniciativa, algumas moram em apartamentos bancados pelo clube. Além desse custo, há outros como alimentação, academia e viagem para competições. “Em agosto, tivemos duas finais em Guaraciaba, com custo de R$ 7 mil. Dá onde vou tirar? A prefeitura me ajuda, é parceira, mas não banca tudo isso. Aí tenho que me virar”, diz.
Sabendo das dificuldades do projeto, a ex-atleta da equipe, Gabriela Voltolini, recentemente criou uma vaquinha online com o objetivo de arrecadar cerca de R$ 50 mil para a iniciativa até o fim deste ano. Até o momento, no entanto, foram arrecadados apenas cerca de R$ 300. A cooperativa de crédito Sicredi é outra que vem tentando ajudar o voleibol local. A empresa anunciou que a cada nova poupança aberta na unidade de Nova Trento serão revertidos R$ 20 para contribuir com o voleibol da cidade.
Paralelamente a estas ações, Vandeca formalizou uma parceria com a equipe de Bauru para viabilizar financeiramente o projeto. “Hoje montamos uma parceria com o Toaldo, que é empresário da Rosamaria. Eles já estão me ajudando desde o ano passado, com um valor mensal que não é muita coisa. Estamos pensando em fazer a formação aqui em Nova Trento e quando a atleta assumir determinada idade a gente encaixa conforme as necessidades da equipe dele”, diz. “Na verdade, não preciso de parceria para aparecer, divulgar atleta, preciso de ajuda para manter”.