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Uruguai e a eterna paixão pelo ciclismo

O povo uruguaio acompanha as competições de todas as formas, através do rádio, televisão e internet, além, é claro, de maneira maciça nos momentos das largadas e principalmente, nos locais das chegadas das etapas, onde a concentração de pessoas é impressionante. Ah se isto acontecesse por aqui. Que inveja do povo deste País.

por Sidney Silva
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No último domingo terminou a 45ª Edição das Rutas de América, tradicional competição do calendário da Federação de Ciclismo do Uruguai. Na verdade é a segunda prova mais importante do ano para os uruguaios, perdendo apenas para a Volta do Uruguay. O campeão deste ano foi o uruguaio Hector Aguilar, da equipe Schneck Alas Rojas, da cidade de Santa Lucia, terra natal do nosso grande amigo Carlito.

O povo uruguaio acompanha esta competição de todas as formas, através do rádio, televisão e internet, além, é claro, de maneira maciça nos momentos das largadas e principalmente, nos locais das chegadas das etapas, onde a concentração de pessoas é impressionante. Ah se isto acontecesse por aqui. Que inveja do povo deste País.

Muitas pessoas ficam ao lado das rodovias, por vezes mais de uma hora, esperando a passagem da caravana onde o colorido das camisetas dos ciclistas e todo o esforço associado ao sofrimento destes atletas de ferro ficam demonstrados na fisionomia dos ciclistas, que precisam se concentrar para fazerem o esforço certo no momento exato.

E por lá temos também os torcedores fiéis das equipes tradicionais, que levam bandeiras e faixas para torcerem por seus atletas. Coisa que mexe com a emoção de qualquer esportista. E aqui … só o futebol. Nada contra. É um esporte a qual eu também me simpatizo. Mas vamos olhar para os lados. Entender que existem outras modalidades muito atraentes, onde atletas se submetem a esforços inimagináveis para um cidadão comum. Muito diferente de um jogador de futebol que simula uma falta, atirando-se ao gramado demonstrando uma dor que não existe, somente para enganar a arbitragem. Uma vergonha.

Os ciclistas não simulam dor. Eles precisam superar o sofrimento, onde a falta de ar nos pulmões e a dor nas pernas fazem parte do dia a dia destes grandes atletas. Quando existe uma queda em competição, em especial durante uma Volta Ciclística, o atleta precisa se levantar o mais breve possível e continuar na disputa, para que não perca segundos preciosos para a Classificação Geral e possa largar na Etapa seguinte. Para quem não sabe como funciona uma Volta Ciclística, vou explicar rapidamente. Um prova é denominada de Volta ou Tour, quando se trata de uma competição disputada em Etapas, onde o campeão será o ciclista que na somatória de tempos de todas as etapas disputadas concluir no menor tempo. Ou seja, o atleta precisa obrigatoriamente completar todas as etapas. Caso ele sofra algum acidente ou problema mecânico, ele precisa solucionar o problema ou se superar para que consiga terminar aquele estágio. Muitas vezes ciclistas sofrem sérios acidentes, e mesmo assim, conseguem concluir aquela disputa. São verdadeiros guerreiros.

Ser ciclista não é nada fácil. Subir em cima de uma bicicleta e sair para pedalar pode ser até simples. Mas ser um ciclista de alto rendimento é realmente uma opção de vida, que na grande maioria das vezes, não é reconhecido e tão pouco recompensado. São poucos os ciclistas que vivem na América do Sul que conseguem sobreviver e sustentar as suas famílias com os rendimentos provenientes do seu esforço no ciclismo. O risco de vida também está presente para esta classe de atletas, pois o local de treinamentos são as precárias estradas e rodovias que temos a disposição. Lamentável.

Bom ….. no Uruguai os ciclistas também não conseguem serem recompensados pelo suor do seu trabalho. Poucos são aqueles que podem se dedicar exclusivamente ao ciclismo. Muito poucos. Mas por lá existe um fator que não temos por aqui no Brasil, o reconhecimento. Se a falta de compensação financeira é parecida, a diferença no reconhecimento de todo o sacrifício que esta classe de atletas se dispõe a fazer é astronômica. O povo uruguaio gosta do ciclismo e reconhece o esforço dos atletas. Valoriza não somente o 1º colocado, mas sim todos que conseguem completar uma competição. Por lá existe imprensa especializada, transmitindo ao vivo as provas, onde comentaristas enxergam todos os detalhes que acontecem durante uma Etapa. Numa prova com mais de 3 horas de disputa, acontecem muitas coisas interessantes. Variáveis que a grande maioria não enxerga. Aí entram os comentaristas. O povo acompanha pelas rádios todo o desenrolar da corrida, e quando termina a prova, não é somente o campeão que recebe os elogios, e sim, todos aqueles ciclistas que se destacaram de alguma maneira durante a etapa.

Para que um ciclista possa vencer uma corrida, o trabalho de sua equipe é fundamental. Atualmente é impossível conseguir um título no ciclismo sem a participação eficaz da equipe. O resultado é individual, mas para este resultado ser possível, a participação de todos os integrantes da equipe é essencial.

E foi isto que aconteceu nesta edição das Rutas de América. O campeão na Classificação Geral Individual foi Hector Aguilar, mas sem o excelente trabalho exercido pelos seus companheiros de equipe do Alas Rojas, esta conquista ficaria em outras mãos.

Aguilar venceu de forma brilhante, conquistando a vitória em 3 etapas e sendo regular nas demais. Na etapa decisiva, realizada no sábado (13) à tarde na cidade de Colônia, uma prova de contrarrelógio individual, que não é a sua especialidade, Cabeça (apelido) não deixou dúvidas da sua excelente forma física. Concluiu com o 5º melhor tempo e praticamente garantiu a sua segunda vitória neste Evento (já havia vencido no ano de 2013), pois todos os seus adversários diretos não figuraram entre os 10 primeiros classificados. Com esta atuação, ele conseguiu abrir mais de 1 minuto na classificação geral e com somente mais uma etapa a ser disputada. E com a força de sua equipe, ele ainda sacramentou o Título vencendo a última e derradeira etapa com chegada em frente a sede do Club Ciclista Fênix, organizador desta competição, localizada na capital do Uruguai, Montevidéu.

Parabéns Cabeça Aguilar. Parabéns Club Ciclista Alas Rojas. Parabéns povo uruguaio.

Tenho orgulho de ter amigos neste País e sempre que posso estarei viajando a este pequeno País na América do Sul, sentindo e vivendo a minha paixão – o Ciclismo.

Para terem uma pequena demonstração de tudo o que relatei nesta matéria, assistam os vídeos abaixo. Vale a pena.

> Rutas 2016 – Torcida espera passagem de pelotão pelas ruas do Uruguai
> Rutas 2016 – Chegada da 3ª etapa
> Rutas 2016 – 6/6 (última etapa)