Por Amplitude Comunicação
Na segunda entrevista da série com os presidentes da Sociedade Esportiva Bandeirante, em comemoração aos 120 anos do clube, confira abaixo os principais trechos da conversa com Nivaldo Murilo Diegoli, 75 anos. Ele ficou à frente do clube de 1972 a 1974. Atualmente, ele reside em Florianópolis e veio a Brusque especialmente para esta conversa, na manhã de quarta-feira, 27 de maio.
Quais os principais marcos da sua gestão para o clube?
Em abril de 1972 era para ter havido uma eleição para presidente, mas ninguém queria ocupar o cargo. O clube então ficou sem presidente até setembro. Nós tínhamos um grupo, que jogava futebol suíço, encabeçado por mim e pelo Juca Loos. Então resolvemos formar um grupo para assumir a direção do clube e eu fui escolhido como presidente. Houve um pouco de rejeição no começo, por parte de alguns associados mais antigos, porque éramos muito novos, mas fomos eleitos em assembleia geral. Lembro que na mesma noite, o gerente da Celesc nos avisou que tínhamos 24 horas para saldar despesas do clube, se não iam cortar a energia. Como nós tínhamos o gerente do Unibanco na diretoria, o Carlito Zimmermann, fizemos “um papagaio” em nosso nome para pagar essa despesa. O clube tinha, na época, aproximadamente 100 sócios contribuintes, mas qualquer pessoa podia entrar e frequentar o clube, exceto a piscina. Com isso, a receita era pequena. Nós então, resolvemos visitar alguns clubes fechados de Santa Catarina, em Itajaí e Florianópolis. Ou seja, somente sócios contribuintes podiam entrar. Depois das visitas nós fizemos isso aqui. Com doações de tijolos e telhas de associados nós construímos uma portaria na subida do morro e tornamos o clube privativo, para associados contribuintes. Com isso, imediatamente passamos a ter 700 sócios. Houve sérios problemas com algumas pessoas, que queriam entrar no clube e foram barradas na portaria. Inclusive na nossa casa nós tivemos alguns dissabores de associados nos procurando e contestando essa atitude. Mas com isso, conseguimos aumentar a arrecadação do clube. Na época, o Bandeirante estava com prestações do ginásio coberto atrasadas na Caixa Econômica Federal, encargos sociais e salários atrasados, de dois ou três funcionários que tínhamos. Então, combinamos de pagar o mês de referência e um mês atrasado. Desta forma, conseguimos nesse “mandato tampão” sanear as finanças do clube. Além disso, nós tínhamos um problema sério de energia elétrica: quando ligava as quadras de tênis não podia ligar o ginásio e vice-versa. Não dava conta. Por isso, nós fizemos uma construção próxima a portaria nova e colocamos um transformador para resolver esse problema. Acredito que na nossa gestão o que foi mais importante foi o saneamento das finanças do clube e tornar o clube privativo para sócios contribuintes. Nós inclusive lançamos a ideia da construção da sede nova, que foi concretizada, me parece, na segunda gestão do Juca Loos. Mas nós assumimos um compromisso, entre nós, de permanecermos na diretoria até terminar a construção da sede, apenas trocando os cargos de presidente. E foi o que aconteceu. Éramos muito unidos e fazíamos reunião toda segunda-feira a noite. Lembro bem, que discutimos sobre o que fazer com o dinheiro que nós tínhamos. Poucas coisas, porque não havia muita condição de investir no clube, até por conta dos atrasados. Na inauguração da sede acabou aquele compromisso moral entre nós de permanecermos unidos. Alguns saíram, outros foram para o conselho deliberativo. Apenas o Juca, que permaneceu por mais tempo.
De que forma o Bandeirante contribuiu para a sua própria história e de sua família?
É um fato interessante. Se for ver entre os fundadores do clube, 13 eram alemães e um era italiano. Ele nasceu em San Giovanni in Persiceto, Província de Bolonha, na Itália. O nome dele era Primo Diegoli. Era o meu avô. E provavelmente foi ele que me trouxe para o clube, quando eu era pequeno. Ele morreu quando eu tinha sete anos. Ele vinha fazer ginástica no clube, naquela época. Além disso, eu morava na rua Tiradentes, aqui próximo, e vivia aqui no clube desde pequeno. Onde estamos agora (piscina) eram as quadras de basquete e vôlei descobertas, de areia. Nos sábados à tarde e domingos pela manhã as equipes do Bandeirante jogavam vôlei e basquete contra times de Joinville, Blumenau e Florianópolis e eu vinha assistir. No campo antigo de futebol se jogava punhobol. É um campo grande com tipo uma rede de vôlei, só com uma corda, e se jogava com os punhos mesmo. Os alemães jogavam contra Blumenau, Joinville e equipes do Rio Grande do Sul. Eu participava de tudo isso. Inclusive as primeiras aulas de vôlei e basquete eu tive aqui. Então, minha vida está ligada ao clube dessa maneira. Quando o Bandeirante fez 100 anos eu fiz um discurso em um jantar e li os nomes dos fundadores. Quando li Primo Diegoli eu perguntei: o que será que um italiano faz aqui no meio? Ele veio para cá com seis, sete anos e foi um dos fundadores.
A minha esposa participou dos bailes que nós fazíamos no fim do ano. Aos sábados fazíamos bingos para arrecadar dinheiro e nós mesmos (diretoria) vendíamos os cartões de mesa em mesa. A minhas filhas não tiveram muita participação em esporte e os netos já nasceram em Florianópolis, então não tiveram participação no clube.
Como o senhor avalia a trajetória do Bandeirante ao longo dos anos, considerando que a história do clube se mistura com a história de Brusque?
Veja, o seu Arthur Schlösser – considerado o pai dos jogos abertos – junto com Orlando Muller, Manfredo Hoffmann, Derci Zimermann, o próprio Emílio Niebuhr, que é genro, e mais alguns abnegados do esporte é que iniciaram os Jogos Abertos, depois daquela ida do Bandeirante até São Carlos disputar os Jogos Abertos de São Paulo, a ideia veio de lá. Esses que eu citei eram membros do clube. Então, o próprio clube que iniciou os Jogos Abertos, tanto que os primeiros foram realizados aqui no Bandeirante. O tênis, o vôlei masculino e feminino e o basquete do Bandeirante representaram Brusque em todas as competições estaduais e nos Jogos Abertos também. Então, há uma ligação estrita entre o esporte brusquense amador, alguns deles, e o nosso clube. Na parte social também, os nossos bailes de ano novo eram disputadíssimos. Quando a gente abria a venda de mesas era uma procura incrível. Depois, com o tempo as pessoas começaram a se deslocar mais para as praias e hoje acho que já não realizam esse baile, não sei. Nós tínhamos um grupo de sete ou oito associados, amigos meus de infância, e toda sexta-feira a noite nós jantávamos no clube. As mulheres depois jogavam cartas e os homens bocha. Às vezes, até de madrugada. A gente usava bastante o clube e participava bastante das atividades.
Qual a sua relação com o clube hoje?
Quando encerrei minhas atividades como dentista em Brusque fui dar aulas na Univali, em Itajaí – permaneci durante 20 anos. Ai eu mudei para Camboriú. Fiquei ainda associado um certo tempo e participava dos jogos de futebol nas quartas-feiras (quarta ferinos). Depois doei meus títulos patrimoniais para o clube e me desliguei. Acho que tinha dois ou três títulos. Hoje, eu acompanho o clube por meio de conversas com os amigos. Fiquei contente hoje de ver as modificações que fizeram, inclusive no campo de futebol suíço onde joguei muito. As quadras de beach tênis também. O clube está muito bonito. Fazia uns cinco ou seis anos que eu não vinha. Estive aqui uma vez com o meu irmão que jogava tênis. Vir aqui hoje deu muita saudade (se emociona). Eu vivi muito aqui no clube. Quando eu era presidente, aos sábados, por exemplo, nós vínhamos de manhã cedo, o Juca Loos comigo. A gente riscava o campo com giz, pincel e cal para poder jogar futebol, almoçava aqui e ficava até a noite. Mesmo depois, durante a semana, às vezes eu saia do consultório, às 18h, e vinha para cá ver como é que estava e ajudar. Porque no começo nós fazíamos muita coisa, pois tínhamos só dois funcionários. Na minha gestão reativamos a boate aqui e tinha música para os jovens aos sábados. Sempre um casal da diretoria ficava aqui até fechar, para evitar qualquer problema, brigas. Nós fizemos inclusive duas gincanas automobilísticas pela cidade toda, com várias atividades esportivas, perguntas, coisas assim, que movimentavam um domingo inteiro a cidade. Sempre tinha muita participação. Me sinto orgulhoso.
O desejo do Bandeirante, ao comemorar 120 anos, é ser a segunda casa dos seus sócios. Em qual espaço o senhor se sente mais em casa?
O único espaço que eu não participava muito era a piscina. Não sou bom nadador e não gostava. Agora o tênis, sempre gostei. Eu, o Juca e mais dois amigos passávamos a tarde toda de sábado jogando tênis. Quarta-feira a noite era futebol suíço. Nós conseguimos, não na minha gestão, depois, que fosse permitido jogar futebol de salão no ginásio. Porque o Arthur Schlösser não queria que jogasse. Nós conseguimos a liberação, então sábados a tarde nós jogávamos futebol de salão. Das 14h às 16h os solteiros e das 16h às 18h os casados. Bocha também eu participava na época. O restaurante também… Praticamente todas as dependências. É sempre um prazer estar aqui no clube. Me sinto em casa aqui.