O entrevistado desta semana é Marcelo Backes Navarro Stotz – especialista em Fisiologia do Exercício (PUC/PR), mestre em Educação Física (UFSC) e mestre de Capoeira com mais de trinta anos de vivência. Conta ainda com experiência em Muay Thai (Academia Chute Boxe – Mestre Rudimar Fedrigo), Kung Fu Shaolin do Norte (mestre Rogério Leal Soares), Aikidô (sensei Valdecir Fornazier – 4o Dan) e pesquisador autodidata em diversas artes marciais.
Nosso entrevistado o Mestre K.B. Lera
Sonho de criança?
Sonhava em ser professor de lutas.
Pessoas que influenciaram?
Destacaria Bruce Lee (ator e artista marcial) Krishnamurti (filósofo)
Como foi a educação recebida de seus pais?
Meus pais proporcionaram: exemplo e formação com informação.
Histórico escolar?
Frequentei o Colégio São Luiz, UDESC (graduação), PUC/PR (especialização) e UFSC (mestrado).
Por que K.B. Lera?
Meu mestre colocou este apelido porque eu gostava de passar os golpes bem próximos ao cabelo dos outros capoeiras e, numa roda ele cantou uma música me chamando de “cabeleleira”, mas o pessoal entendeu “cabeleira” e por eu usar os cabelos compridos, o apelido ficou.
Grandes Mestres na Capoeira?
Há um plantel enorme de grandes mestres, mas podemos citar num passado recente os mestres Pastinha (Capoeira Angola) e Mestre Bimba (Capoeira Regional) e na contemporaneidade destaco os mestres Camisa e Cobra Mansa.
Como surgiu a capoeira em sua trajetória?
Quando me mudei para Florianópolis fui visitar academias de lutas e a Capoeira me conquistou completamente.
Fale sobre o início da trajetória?
Falar sobre si mesmo é sempre complicado, por isso o fato sempre apresenta-se como um desafio. Minha paixão pela leitura e a dedicação aos estudos, somadas a uma constituição física bastante frágil, me mantiveram afastado das práticas esportivas até o final da adolescência. Não por vontade própria, mas devido a constante seleção dos “melhores” e “mais fortes” que sempre me empurraram para o final da fila. Daí a surpresa de muitos quando abandonei definitivamente as aulas de Economia (UFSC) para cursar Educação Física (UDESC). A opção pela mudança de curso se deu logo depois do meu contato com a Capoeira. Contrariando minha descendência européia, o universo afro-brasileiro me conquistou completamente e, a partir das primeiras aulas, passei a pesquisar e registrar tudo que pudesse me ajudar a entender melhor a formação da arte-luta brasileira. Tal paixão também se estendeu as outras artes marciais, aumentando meu interesse pela história de cada uma delas.
Alguma especialização?
Concluí minha graduação em 1985 e no ano seguinte busquei aprofundar meus conhecimentos sobre o funcionamento do corpo humano na Pontifícia Universidade Católica do Paraná, onde alcancei o Título de Especialista em Pesquisa em Fisiologia do Exercício. Durante o curso de especialização me dediquei ao treinamento de Muay Thai na Academia Chute Boxe, com o mestre Rudimar Fedrigo.
Como e quando surgiu o Marcelo professor?
De volta à capital catarinense (1987) prestei Concurso Público na Prefeitura Municipal de Florianópolis e fui designado para atuar como professor de Educação Física na Escola Básica Dr. Paulo Fontes. Também passei a trabalhar como professor de Ginástica na Academia Chardantic, em Coqueiros, e no Programa “Ginástica na Praia”, mantendo ambas as funções até dezembro de 1989. Em 1988 ministrei aulas de Capoeira pelo convênio SESC/ Prefeitura Municipal de Florianópolis. No mesmo ano fui convidado a trabalhar como Assessor da Secretaria Municipal de Educação, na qualidade de Coordenador da Divisão de Educação Física, onde permaneci até dezembro de 1989. Neste período frequentei aulas de Wu Shu (Kung Fu), Shuai Jitsu e Boxe.
E tinha Brusque no caminho?
Com o objetivo de promover um trabalho diferenciado com a Capoeira, em 1990 voltei para minha terra natal. Nomeado por Concurso Público da Prefeitura Municipal de Brusque para trabalhar no Colégio Municipal João Hassmann, logo dei início à implantação da Capoeira na cidade, ministrando aulas inicialmente no Seminário de Azambuja e em seguida no Centro de Atividades do SESC, onde fiquei até dezembro de 1992. Em 1992 acumulei as funções de Coordenador da Divisão de Educação Física da Secretaria Municipal de Educação, e Coordenador da Secretaria de Assuntos Para A Juventude da Prefeitura Municipal de Brusque, até dezembro de 1994.
Algum trabalho de divulgação da capoeira?
A partir de 1994 passei a me dedicar com maior afinco na divulgação da Capoeira, atuando em diversas academias (Espaço Ativo – 1992/95; Korper – 1995/96; Gaivota Escola de Natação Ltda. – 1997/2001; SESC –1998/99; Arena 2000/2003), escolas particulares (Colégio São Luiz – 1999/2002; Colégio Honório Miranda – 2003/04), escolas públicas (Projeto “PIÁ” Capoeira na Rede Municipal – 2001/04), além de centros comunitários e projetos sociais, como a implantação da Capoeira no Instituto Santa Inês (APAE).
Participações?
Delegado eleito como um dos representantes do estado de Santa Catarina no “I Congresso Nacional de Capoeira”, realizado em São Paulo, no período de 15 a 17 de agosto de 2003, ao retornar daquele evento fui um dos responsáveis pela fundação da Confraria Catarinense de Capoeira, entidade de projeção internacional. Durante o ano de 2004 ministrei o Curso “Resistência Cultural Afro-Brasileira: A Corpo-Oralidade da Capoeira” realizado pela parceria Prefeitura Municipal de Brusque e Unifebe. Também apresentei o trabalho “Resistência Cultural Afro-Brasileira: A Corpo-Oralidade da Capoeira”, na modalidade comunicação oral, durante o “5º. Fórum de Extensão Universitária da Acafe”, realizado na cidade de Blumenau. Durante o curso de extensão realizado na Unifebe, fui convidado a escrever um capítulo no livro “Palavra Nômade – O Cinema Nacional em Pauta”, organizado por André Soltau. O artigo recebeu o título “De Hong Kong para Hollywood, com Dendê: Capoeira & Cinema”, publicado em 2005 pela Editora Cultura em Movimento. Ainda em 2004 participei do I Seminário Nacional de Estudos Sobre Capoeira (Seneca) realizado no período de 07 a 09 de maio de 2004 na cidade de Campinas. Também fui um dos palestrantes convidados no “VI Simpósio Nacional Universitário de Capoeira”, realizado em Florianópolis, no período de 12 a 14 de novembro, e participante do “II Congresso Nacional de Capoeira”, realizado no Rio de Janeiro, no período de 26 a 28 de novembro, na condição de Delegado eleito pelo estado de Santa Catarina.
Mestre em Capoeira?
Em dezembro de 2004 recebi o título de Mestre de Capoeira outorgado por grandes nomes da Capoeira nacional. Infelizmente, no mesmo mês sofri uma grave lesão que me deixou completamente afastado de todas as minhas atividades durante todo o ano de 2005. Durante o período de convalescença organizei minhas pesquisas realizadas em mais de um quarto de século, que se transformaram num livro em forma de dicionário, com mais de 18.600 verbetes, que pretendo publicar em breve.
Outras participações?
Parcialmente recuperado, em 2005 participei da criação e coordenação pedagógica do Curso de Capacitação de Educadores Populares de Capoeira na Perspectiva Intercultural no período de 01/03 a 30/11, realizado na UFSC, quando ministrei a palestra “Saberes e Práticas Históricas da Capoeira”. No ano seguinte participei do II Seminário Nacional de Estudos Sobre Capoeira (SENECA) realizado no período de 12 a 14 de maio, na cidade de Florianópolis. Em dezembro de 2006, como professor convidado, ministrei os conteúdos de Capoeira para a primeira turma de acadêmicos de Educação Física da Fundação Educacional de Brusque (Unifebe). Em 2007, através da Secretaria de Assuntos Para A Juventude da Prefeitura Municipal, implantei o Projeto “Centro Catarinense de Consulta e Capacitação em Capoeira”, reunindo no mesmo local (Arena Multiuso) o treinamento de nossa arte-luta com a organização de um acervo multimídia sobre Capoeira e assuntos correlatos. Também participei do II Curso de Capacitação de Educadores Populares de Capoeira na Perspectiva Intercultural, na UFSC, com carga horária total de 120 horas.
E o mestrado?
Em 2008 iniciei o curso de Mestrado em Educação Física na Universidade Federal de Santa Catarina com a Linha de Pesquisa: Teorias Sobre o Corpo e o Movimento Humano na Sociedade, que resultou na dissertação “Ritmo & Rebeldia: só na luta da capoeira se dança?”, entregue em 2010.
Finalmente?
Depois da conclusão do curso de Mestrado passei a me dedicar exclusivamente à promoção da Capoeira em Brusque, realizando diversos eventos, palestras e outras atividades relacionadas ao universo da arte-luta brasileira, garantindo a continuidade da sua prática por meio da formação de uma equipe de discípulos mais antigos que ministram aulas em diversos locais.
Encerrando, quais os locais em que atende?
Atendo na Arena Multiuso todas as noites às 21h15 e segundas, quartas e sextas às 8h e 18h15. Terças e quintas na escola municipal da Cerâmica Reis às 17h. O grupo trabalha nos locais discriminados em nossa home page: http://www.camaracapoeira.net/