Coluna Saúde do Atleta – Por: Volnei Correia da Silva
Na coluna da semana passada comentei que a articulação do joelho é a mais propensa a lesão em corredores de rua, mas, em nenhum momento, comentou-se na possibilidade de desenvolvimento da artrose(desgaste) das articulações dos membros inferiores decorrentes do impacto ocasionado pelo ato de correr.
Seria de pensar exatamente isto. Correr causa impacto, o impacto sobrecarrega as articulações do joelho e quadril e isto levaria a um processo de artrose/desgaste articular.
Para felicidade da grande parte dos corredores os estudos mostram que não é bem assim que funciona.
Vários estudos chegaram a resultados onde o ato de correr não aumenta o risco de artrose em quadril e joelho nos corredores recreacionais, bem pelo contrário, eles têm menor risco de artrose nestas articulações que as pessoas que não praticam corrida (sedentárias). Inclusive, Mosher et al, em 2010, demonstrou avaliando em Ressonância Magnética, que maratonistas tinham uma espessura de cartilagem do joelho maior que em não corredores, evidenciando que ocorre uma adaptação articular à sobrecarga repetitiva levando a este fenômeno.
Mas nem tudo são flores. Os corredores competitivos/profissionais têm um risco um pouco maior de desenvolver artrose em quadril e joelho que as pessoas que não praticam a corrida. Certamente relacionada com a carga de treino muito elevada. Mas, mesmo que eles tenham um risco um pouco maior de ter artrose, isto não se refletiu em mais cirurgias para tratamento da artrose. Os atletas corredores com artrose tiveram 50 %menos cirurgias, para tratamento da artrose, que os não corredores.
Então, podemos dizer que:
– Correr de maneira recreacional diminui a chance de artrose em quadril e joelho comparado a quem não corre.
– Correr competitivamente/profissionalmente leva a um maior risco de artrose no joelho e quadril, mas tem um risco bem menor de serem submetidos a tratamento cirúrgico para correção do desgaste articular do que aqueles que não correm.
Estes estudos não foram feitos em pessoas com artrose. Por conta disto não podemos dizer que as pessoas que apresentam artrose no joelho e quadril se beneficiariam com a corrida. Neste caso, como já há o desgaste da cartilagem, sabe-se que a atividade física é um dos pilares do tratamento da artrose, mas a maneira de realizá-la deve ser individualizada para cada pessoa.
Sobre o colunista
Especialista em Cirurgia do Joelho em Lyon/França e Médico de Equipe pelo Futbol Club Barcelona, Volnei Corrêa da Silva tem 51 anos e é natural de Ibirubá (RS). Desde 1997 mora em Lages. Atualmente é médico do Leoas da Serra, time de Futsal Feminino de Lages, e também médico da Seleção Brasileira de Futsal Feminino. Professor do curso de Medicina na Universidade do Planalto Catarinense (Uniplac), Volnei também atua na CLINITRAUMA Ortopedia e Traumatologia, em Lages.