O handebol masculino de Itajaí deve seu sucesso a uma mulher. Cláudia Monteiro do Nascimento, 52 anos, gaúcha de Santa Maria. Ela veio para Itajaí aos 19 anos justamente para jogar a modalidade. Talvez, àquela altura, jamais imaginasse que o destino lhe reservasse uma carreira invejável. Cláudia formou-se em Educação Física e rompeu a hegemonia masculina. Se tornou treinadora, administradora e fez o handebol itajaiense superar fronteiras. Hoje ela está à frente do esporte na cidade além de cuidar do planejamento e fazer projetos para a área.
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O início
A carreira de Cláudia como treinadora começou cedo. Em 1987, ela mudou-se para Itajaí para jogar com o então técnico Dário Rebello dos Passos Filho. Um acidente fez com que Dário precisasse ser substituído e ela, recém-formada, encarou o desafio. O resultado são mais de 30 anos de sucesso com o handebol peixeiro. Cláudia foi professora durante 29 anos nos quais descobriu talentos, incentivou atletas e colocou o handebol masculino de Itajaí no cenário nacional e internacional.
Os títulos e conquistas fazem parte do dia a dia da treinadora. Já perdeu as contas de quantos triunfos conquistou no esporte. Mas, para ela, um dos segredos é a confiança. Mesmo sendo mulher num ambiente geralmente masculino Cláudia impôs sua personalidade. Seu estilo e exemplo contagiou o esporte masculino da cidade. Uma relação familiar, segundo ela.
“O ambiente sempre foi muito favorável. O respeito é mútuo. A maioria dos meninos já trabalha comigo há anos. É uma relação de mãe e filhos”
O sucesso de Cláudia ganhou notoriedade. De 2004 a 2008 ele chegou a ser técnica da seleção brasileira de handebol de areia feminino. Foram anos de glória. Conquistou o Campeonato Mundial em 2005 na Alemanha e em 2006 no Brasil, no Rio de Janeiro. Além de quatro vezes seguida o pan-americano, de 2004 a 2007. Em 2010 o handebol masculino itajaiense ficou conhecido na Europa, com a disputa do campeonato mundial de jogos escolares, em Portugal, onde a equipe ficou em 10º lugar. Outras incontáveis conquistas fazem parte do currículo da gaúcha. OLESC, JASC, Joguinhos, entre outros.
Atualmente, Cláudia, além de coordenadora do handebol itajaiense, acumula a função de auxiliar técnica. “O handebol itajaiense graças a Deus tem uma excelente equipe. O masculino precisa de alguém para estar na administração, por isso estou fazendo essa parte”, explica. Sempre pensando no futuro do esporte, a profissional segue buscando alternativas de dar oportunidades às pessoas e, ao mesmo tempo, formar atletas competitivos. Recentemente, ela foi idealizadora do projeto “Handebol de base O futuro do Brasil II”, o qual, conforme Cláudia, tem caráter educacional e social.
Em um mundo onde o esporte é, ainda em sua maioria, privilégio dos homens, Cláudia dá seu exemplo de determinação e luta. Ela serve de inspiração para outras mulheres que desejam fazer história mesmo num universo masculino. Superar obstáculos e encarar desafios, segundo ela, fazem parte do dia a dia de uma mulher vencedora.
“Passei por situações que quase pensei em desistir, muitos preconceitos. Porém, cada vez mais foi me dando forças para superar as adversidades que vinham pela frente. Tive apoio da minha família, que sempre me valorizou e incentivou. E assim eu tinha entusiasmo para seguir em frente”