Coluna Saúde do Atleta – Por: Volnei Corrêa da Silva
Este tema foi sugerido por uma leitora, logo que começamos com a coluna Saúde do Atleta, algumas semanas atrás.
É um assunto que vem tendo uma discussão muito grande no meio esportivo. Algumas conclusões tem um melhor consenso e outras geram discussões calorosas.
O ciclo menstrual é dividido em 4 fases com mudanças significativas nas taxas hormonais entre cada período. Essas alterações levam a mudanças fisiológicas sentidas pela mulher.
O período que a mulher mais apresenta alterações fisiológicas detectáveis é justamente no período anterior da fase de regressão (menstruação), chamado de período pré-menstrual ou de tensão pré-menstrual (TPM). Período caracterizado por dismenorreia (dor, cólicas), alterações do humor, retenção de líquido, enxaqueca, dentre outros.
Estes sintomas pré-menstruais e menstruais se apresentam de maneira diferente em cada mulher ao ponto de algumas serem muito sintomáticas e outras não.
Vários estudos apontam que, neste período, em decorrência destes sintomas, há diminuição do rendimento esportivo nas mais acometidas pelos sintomas.
Alguns trabalhos científicos tentam associar este período com aumento da probabilidade de lesões músculo ligamentares, apontando para uma diminuição da resistência destas estruturas.
Quando avaliada a construção destes trabalhos se verifica uma fragilidade metodológica que nos faz questionar esta afirmativa. Já outros de metodologia mais reprodutível, robusta, com menor viés e menos interferência do pesquisador, não demonstraram maior número de lesões na período pré-menstrual e menstrual.
Que os sintomas pré-menstruais, nas atletas com maior intensidade de ocorrência, diminuem o rendimento esportivo parece estar bem estabelecido.
O mesmo não podemos afirmar que as lesões músculo ligamentares são decorrentes de uma fragilização das estruturas e consequente maior prevalência de ocorrerem neste período do ciclo menstrual.
Esta constatação, de que há uma diminuição do rendimento esportivo das atletas no período pré-menstrual e menstrual, tem aventado entre integrantes de departamentos de saúde de equipes, seleções e atletas profissionais das modalidades individuais, o uso de anticoncepcionais (ACO) para bloquear o ciclo menstrual. Particularmente defendo uma avaliação pormenorizada de cada atleta e entendimento da situação fisiológica de maneira individualizada para se determinar qual a real diminuição de desempenho esportivo ocasionado pelas queixas pré-menstruais. A partir daí, com discussão clara e franca, levando em conta os riscos benefícios, decidir conjuntamente com a atleta a possibilidade do uso de ACO, mas restrito a casos extremos.
Especialista em Cirurgia do Joelho em Lyon/França e Médico de Equipe pelo Futbol Club Barcelona, Volnei Corrêa da Silva tem 51 anos e é natural de Ibirubá (RS). Desde 1997 mora em Lages. Atualmente é médico do Leoas da Serra, time de Futsal Feminino de Lages, e também médico da Seleção Brasileira de Futsal Feminino. Professor do curso de Medicina na Universidade do Planalto Catarinense (Uniplac), Volnei também atua na CLINITRAUMA Ortopedia e Traumatologia, em Lages.